Foi na condição de presidente em exercício que o general Hamilton Mourão desembarcou no Rio Grande do Sul na quinta-feira e cumpriu uma extensa agenda ao longo da sexta-feira. Tomando cuidado com as palavras, mandou recados para dentro e fora do governo e, mesmo não admitindo que volta e meia precisa se fardar de bombeiro, tentou reconstruir as pontes com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, peça essencial para a aprovação da reforma da Previdência.
No primeiro compromisso do dia, a entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, Mourão elogiou Maia, numa tentativa de consertar o estrago provocado pelo atrito com o ministro Sergio Moro e pelo tuíte do segundo filho, Carlos Bolsonaro, de provocação ao presidente da Câmara:
– Se por acaso o presidente Rodrigo ficou incomodado com isso, compete a nós do governo lançarmos as pontes e conversarmos com ele. Lembrar que rede social não tem nada a ver com a opinião que todos nós, do Executivo, temos sobre ele como presidente de uma das casas do Legislativo. Eu o considero um apoiador incondicional das principais ideias que nós temos, e conto, assim como todos nós do governo, com o apoio dele.
Apesar do apego da família Bolsonaro às redes sociais, o vice-presidente sugeriu que não se perca o foco:
– Não dou bola para rede social. Porque se for dar bola para rede social a gente não faz outra coisa. Temos de ter foco e nos concentrar em nosso trabalho. Buscar ter a resiliência necessária para implementar as reformas que o país precisa e olhar menos para a rede social.
Mourão disse que ele e o ministro da Economia, Paulo Guedes, têm mantido o foco nas reformas em todos os lugares em que falam.
Coincidência ou não, depois da manifestação do vice e da reunião em que o presidente da Câmara fez um desabafo a parlamentares e ameaçou abandonar as articulações para aprovação da reforma da Previdência, o presidente Jair Bolsonaro acenou com bandeira branca a Maia e o filho mais velho, o senador Flavio Bolsonaro, foi para o Twitter tentar consertar o erro do irmão.
Na Fiergs, Mourão teve seu momento popstar antes do almoço com empresários. Solícito, deu atenção a todos os que dele se aproximaram, tirou fotos e fez brincadeiras. Ao saudá-lo, o presidente da Fiergs, Gilberto Petry, reafirmou a necessidade da reforma da Previdência e aproveitou para lembrar a importância estratégica do Sesi e do Senai, ressaltando que são “custeados pelo setor privado”.
Mourão leu o discurso no qual explicitou os compromissos do governo com o setor produtivo, defendeu as privatizações e disse que a abertura da economia ao comércio internacional será “lenta, gradual e segura”. Repetiu os argumentos em favor da reforma da Previdência, destacando que o sistema atual “é uma pirâmide financeira” e que, se não for reformado, faltará dinheiro para pagar os aposentados.
O discurso terminou com uma espécie de compromisso com “a liberdade de expressão, de religião, de não ser submetido aos desejos de outrem e de não ter medo”.
Astrólogo da Virginia
Bem-humorado, o vice-presidente Hamilton Mourão respondeu com uma alfinetada no guru do bolsonarismo ao ser questionado em quanto tempo o Brasil será o país da ordem e do progresso:
– Tem um cidadão que mora lá nos Estados Unidos, o Olavo de Carvalho. Todo dia ele me xinga. O Olavo de Carvalho acho que é astrólogo, viu, é o astrólogo da Virginia. Tenho que passar pra ele essa bola de cristal aí.
Pela manhã, na Rádio Gaúcha, Mourão já havia dito que Olavo “atingiu um limite em termos de ofensa pessoal”.
Tira o celular
Nas rodinhas de conversa que se formaram antes da palestra do general Hamilton Mourão, na Fiergs, um dos principais assuntos foram as postagens impertinentes dos filhos do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.
O que mais se ouviu foi que o tuíte de Carlos Bolsonaro provocando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pode colocar em risco a reforma da Previdência.
Como reduzir o risco de sinistralidade? Já que não dá para cortar o celular da prole, uma ideia é que, no mínimo, o presidente impeça o filho de tuitar por ele.