A eleição de 28 de outubro não será entre dois candidatos ou dois partidos, como foram as disputas de segundo turno desde 2002, com a polarização PT e PSDB. Será entre um homem (ou um mito, como preferem seus seguidores) e um partido marcado a ferro e fogo pelos erros de seus dirigentes.
Ninguém escolherá entre PSL e PT, nem entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. A disputa é entre Bolsonaro e um PT desgastado pela Lava-Jato, com seu principal líder cumprindo pena em Curitiba e que não foi capaz de fazer uma autocrítica sincera dos erros cometidos nos governos de Lula e Dilma.
Por essa peculiaridade, é mínima a chance de Haddad ser eleito. Embora tenha colhido resultados razoáveis na Câmara e nas eleições estaduais, sobretudo no Nordeste, o PT é um peso nas costas de seu candidato.
Os antipetistas não querem conhecer o currículo de Haddad nem compará-lo com o de Bolsonaro. Não faz diferença que um tenha sido ministro da Educação e prefeito de São Paulo e que o outro nunca tenha administrado nem a simbólica carrocinha de cachorro-quente. Na construção do mito, Bolsonaro incorporou todos os ingredientes que hipnotizam o eleitorado antipetista, a ponto de conseguir apagar um passado que em outra circunstância poderia afugentar eleitores que hoje brigam por ele.
Ser o anti-PT faz os eleitores de Bolsonaro relevarem a mediocridade do seu desempenho em 27 anos como deputado, esquecerem seus votos contra projetos cruciais para o país, a fragilidade de sua conversão ao liberalismo, a bateção de cabeça entre o candidato e os homens fortes de sua campanha.
Para impedir a volta do PT ao poder, os eleitores de Bolsonaro não se incomodam com suas declarações de apreço a torturadores nem com suas posições racistas, homofóbicas e preconceituosas contra as mulheres. Basta-lhes o rótulo de honesto, a promessa de combater a corrupção, facilitar a compra de armas e reduzir o tamanho do Estado.
A esse eleitorado acossado pela violência soam como música as diferentes versões da frase “bandido bom é bandido morto” e a proposta de eliminar a Secretaria de Direitos Humanos, pelo entendimento de que está a serviço dos delinquentes.
O antipetismo produz o efeito Teflon: nada gruda. O general Oswaldo Ferreira, cotado para ser ministro, diz uma frase como “no meu tempo, não tinha MP e Ibama para encher o saco” e ninguém se escandaliza. Nem o Ministério Público.
Uma fatia do eleitorado que não concorda com nada disso diz que vai tapar o nariz e votar em Bolsonaro porque é melhor um salto no escuro do que a volta do PT ao poder.