Além do impacto nas áreas social e econômica, os 13 anos de administração petista deixarão como herança uma série de lições e reflexões para a política nacional. A ascensão de um partido popular, com forte ligação com os movimentos sociais e sindicais, foi uma grande oportunidade para a esquerda promover profundas mudanças no país. Ao longo das administrações de Lula e Dilma, no entanto, os escândalos elevaram a corrupção a um inédito patamar de visibilidade e ampliaram o descrédito da população com a classe política.
Descortinados por instituições que o PT diz ter fortalecido durante os 13 anos de administração, o escândalo do mensalão e a Operação Lava-Jato ficarão marcados na trajetória dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff pela dimensão que atingiram e o impacto político que representaram.
Do lado dos simpatizantes do governo, impera a tese de que a corrupção sempre existiu e que os casos mais vultosos só vieram à tona durante as gestões petistas graças ao aumento dos investimentos em órgãos como a Polícia Federal. Já os oposicionistas encampam um discurso menos engenhoso e mais direto: atribuem ao partido e suas práticas o surgimento de episódios impactantes de desvios de recursos públicos.
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Na avaliação de especialistas e políticos consultados por ZH, o fato de líderes da sigla, como o ex-ministro José Dirceu, e outros integrantes da cúpula da direção partidária terem sido presos nos últimos anos contribui para que a imagem do PT tenha ficado atrelada ao mensalão e à Lava-Jato. Apesar da participação de membros de outras legendas, o fato de os petistas comandarem o país durante a eclosão dos casos acabou por ampliar a cobrança sobre o partido.
– O Petrolão é o maior escândalo da história do país e um dos maiores do planeta.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, declarou uma vez que mensalão e Petrolão são a mesma coisa, um é a continuidade do outro. Se você somá-los, não há como dissociar isso do governo do PT – explica o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília Ricardo Caldas.
Para sustentar a tese de que aumentou o combate à corrupção – e alfinetar a oposição por supostamente engavetar suspeitas quando estava no poder –, a campanha de Dilma Rousseff em 2014 destacou como feitos a aprovação da Lei de Acesso à Informação e a criação da Controladoria-Geral da União, entre outros.
– A gente nunca teve tanta transparência para chegar até onde a gente chega hoje. Essa é umas heranças do governo. Nunca tivemos tantos empresários, empreiteiros e políticos sendo punidos. Essa é uma marca importante, principalmente do governo Dilma. Ela tem enormes dificuldades, mas foi extremamente corajosa e enfrentou alguns feudos onde se imaginava haver corrupção – elogia a cientista política da Universidade Federal de São Carlos (SP) Maria do Socorro Sousa Braga.
O ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS) avalia que uma das marcas negativas deixadas pelo PT é o aumento do descrédito da população em relação à classe política. Um sentimento provocado principalmente pela frustração com as condutas do partido quando chegou ao poder:
– As análises que se farão do governo do PT daqui para a frente vão compor dois capítulos: o primeiro, sobre como o PT marcou presença no Brasil e no mundo inteiro. Foi uma experiência muito importante, um partido formado por trabalhadores, por operários. Foi fantástico. Eles chegaram à Presidência com dignidade, sem se corromper. Mas o capítulo final é esse. Um governo que sai, não pela crise econômica, mas pela mais escandalosa corrupção que já existiu – afirma Simon.