Os Trapalhões estão de volta. Não se trata do quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, que faziam rir as plateias dos cinemas e os telespectadores das tardes de domingo no século passado. Na versão 2018, Os Trapalhões têm o advogado Miguel Reali Jr. como protagonista da comédia pastelão em que se transformou a tentativa de unir os candidatos de centro e evitar o segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
A reunião marcada para esta terça-feira (25) em São Paulo teve de ser cancelada porque Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede) avisaram de última hora que não iriam comparecer. Ciro Gomes (PDT) não tinha nem sido convidado, porque reagiu com uma patacoada à carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sugerindo a renúncia em favor de um concorrente com mais chance de unir o país:
– É muito mais fácil um boi voar de costas. O Fernando Henrique não percebe que já passou. A minha sugestão para ele, que ele merece, que ele troque aquele seu pijaminha de bolinha por de estrelinha, porque ele está preparando o seu voto ao Haddad. Porque ele não tem respeito a nada nem a ninguém que não seja o seu próprio ego.
João Amoêdo (Novo) também foi chamado para a conversa com os presidenciáveis, mas não aceitou. Resumindo, a reunião, se tivesse ocorrido, seria de Reali com Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Pode) e um grupo de jovens ligados ao movimento Voto Mais Útil.
Autor do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao lado da advogada Janaína Paschoal, Reali deve ter concluído que ajudou a alimentar o monstro da radicalização e agora quer se redimir. Se Dilma tivesse continuado, com o governo desgastado como estava, hoje o PT provavelmente estaria na lona.
O partido – que ignora os seis anos de Dilma na sua propaganda – tratou o impeachment como golpe e a prisão do ex-presidente Lula como conspiração e passou os últimos dois anos na vitrine. Resultado: seu candidato a presidente está em segundo lugar nas pesquisas, assustando o mercado e os eleitores que não gostariam de uma final entre ele e Bolsonaro.
No diagnóstico, Fernando Henrique e Reali estão certos: quem ganhar a eleição herdará um país dividido e terá dificuldade para promover a conciliação.
Aliás
As boas intenções de quem propõe a união do centro terão de se transformar em ação depois da posse, para evitar que a guerra entre esquerda e direita empurre o país para o caos.