Personagem de dois textos sobre a infindável fila dos precatórios publicados pela coluna, um em 2011 e outro em 2013, dona Felicidade Camargo Machado, 111 anos, faleceu na noite de terça-feira (6), em Santana do Livramento. A idosa ficou conhecida porque esperou, por mais de meio século, pagamento de uma dívida do Estado.
— Não estou doente, graças a Deus. Só quero receber o que tenho direito antes de morrer — dizia ela há sete anos, quando foi notícia em Zero Hora pela primeira vez, quando já havia completado 105 de idade.
Em 2013, voltou às páginas porque havia recebido os R$ 50 mil devidos pelo governo. "Foi a realização de um sonho, o de conseguir receber, ainda em vida, o precatório que herdou do marido, que era militar, quando ela tinha então 105 anos. E que agora vai lhe render cerca de R$ 50 mil – que pretende utilizar para reparos como consertar as goteiras de sua casa, trocar as portas carcomidas pelo tempo e ir ao médico para resolver dores crônicas nas costas", escrevia a interina da coluna à época, jornalista Letícia Duarte.
— Ela se tornou o símbolo da nossa luta pelo pagamento dos precatórios. Aos familiares e amigos, os meus votos de pesar e saudade — manifestou Frederico Antunes (PP), deputado que apresentou o caso de Dona Felicidade ao jornal.
Frederico foi idealizador de comissão na Assembleia que discutia o futuro dos precatórios no Estado. O parlamentar descobriu a história da idosa em uma audiência pública sobre o tema promovida em Santana do Livramento, onde ela vivia.
Dona Felicidade morreu por causas naturais. Oficialmente, tinha 100 anos - foi registrada em 23/11/1917, mas nasceu mesmo em 1906. Deixou três filhas, 17 netos, 39 bisnetos e 22 tataranetos.
Precatórios
O pagamento de precatórios quase dobrou no Rio Grande do Sul em 2017, passando de R$ 353,4 milhões para R$ 664,5 milhões na comparação com 2016. Apesar disso, o estoque da dívida pouco variou. Em valores nominais, subiu de R$ 11,7 bilhões em 2016 para R$ 11,9 bilhões no ano passado, segundo o Tribunal de Justiça do Estado (TJ). Descontada a inflação do período, o saldo praticamente se manteve o mesmo. Além disso, há mais R$ 930 milhões aguardando quitação nas justiças Federal e do Trabalho.