A escolha de Raul Jungmann para chefiar o recém-criado Ministério da Segurança Pública pode ser traduzida como uma opção do presidente Michel Temer pelo nome que oferece menor risco de sinistro. Com 10 meses de governo pela frente, o presidente não podia se dar ao luxo de fazer experiências em um projeto que tanto pode consagrá-lo como enterrar sua carreira política. Das opções disponíveis, Jungmann é o que reúne o melhor conjunto de habilidades para enfrentar o desafio de colocar em pé um programa mínimo de segurança pública para o país.
Testado no Ministério da Defesa, uma pasta que em tempos de paz não exige muito de seu titular, Jungmann já mostrou que tem habilidade política, comunica-se melhor do que a maioria dos colegas do primeiro escalão, saiu ileso da Operação Lava-Jato, foi fiel a Temer na crise da JBS e já vem atuando na área. Foi dele a coordenação estratégica da segurança na Olimpíada, que superou as expectativas mais otimistas.
Para completar o perfil, conquistou o respeito das Forças Armadas no período em que esteve à frente do Ministério da Defesa. Isso não é pouco para quem precisa dos militares hoje para levar adiante a intervenção na segurança do Rio de Janeiro e poderá ter de requisitar ajuda do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para operações em outros Estados.
O fato de escolher um civil para o Ministério da Segurança, depois de nomear um general para comandar a intervenção no Rio, é outro acerto do presidente. Caso tivesse optado pelo general Sérgio Etchegoyen, que também é homem de sua confiança, Temer estaria alimentando as teorias conspiratórias disseminadas por adversários, de entrega do poder aos militares. É verdade que a indicação do general Joaquim Silva e Luna como ministro interino da Defesa quebra uma tradição de comando das Forças Armadas por civis desde a criação da pasta, em 1999, mas a questão é mais simbólica do que prática.
As credenciais de Jungmann não são garantia de que o brasileiro ficará mais seguro porque agora existe um Ministério da Segurança. O que vai fazer diferença é a adoção de políticas públicas que, até aqui, nunca saíram do papel. As medidas escritas no Plano Nacional de Segurança ainda habitam o terreno das ficções.