O ato do prefeito Nelson Marchezan, de enviar ofício ao presidente Michel Temer pedindo a presença do Exército e da Força Nacional de Segurança em Porto Alegre, no dia 24 de janeiro, data do julgamento do ex-presidente Lula, não passou de um gesto político para marcar posição. Marchezan atropelou o Gabinete de Crise, que havia se reunido na véspera para discutir a estratégia de garantia da segurança e da ordem pública, e jogou para a torcida antipetista. Ao enviar ofícios ao governador José Ivo Sartori e ao secretário da Segurança, Cezar Schirmer, alertando para o risco de uma “invasão de Porto Alegre”, agiu como se as autoridades estivessem de braços cruzados.
Schirmer e Sartori ficaram sabendo da carta a Temer na noite de quarta-feira (3), quando saíam de um jantar.
– Checa isso direito que deve ser fake news – recomendou Schirmer a um assessor.
Não era fake news. Na quinta-feira (4) pela manhã, o prefeito mesmo se encarregou de postar a notícia em seu perfil no Twitter, que tem 82,3 mil seguidores. “Solicitei ao Presidente @MichelTemer o apoio da Força Nacional e do Exército Brasileiro para atuarem no dia 24. Devido às manifestações de líderes políticos que convocam uma invasão em Porto Alegre, tomei essa medida para proteger o cidadão e o patrimônio público”, escreveu Marchezan. E ilustrou com a reprodução do ofício enviado a Temer.
Embora jovem, o prefeito deveria saber que não tem poder para pedir reforço do Exército. Que essa tarefa cabe ao governador, se achar que a polícia militar não tem como dar conta da segurança em um evento como as manifestações de movimentos sociais ligados a Lula. Seu gesto, classificado como “patacoada” por um integrante do primeiro escalão do governo Sartori e de “infantiloide” por outro, deve ser traduzido como uma espécie de vacina para o caso de ocorrerem conflitos no dia 24. Equivale a dizer “eu avisei”.
O que irritou a cúpula do governo estadual e outras instituições que integram o Gabinete de Crise é que a prefeitura tinha sete representantes na reunião reservada realizada na véspera. Nessa reunião ficou combinado que ninguém deveria dar entrevistas, para não atrapalhar a estratégia dos órgãos de segurança. Schirmer e os comandantes da Polícia Civil e da Brigada Militar vêm trabalhando no assunto desde a metade de dezembro, em sintonia com o TRF4, os ministérios da Defesa e da Justiça, o Gabinete de Segurança Institucional, o Comando Militar do Sul, a Polícia Rodoviária Federal e outros órgãos que atuaram na segurança da Copa do Mundo.
Para não ampliar os estragos, Schirmer deu entrevistas colocando panos quentes. Disse que todas as providências já estavam sendo tomadas e que a competência de chamar o Exército ou a Força Nacional, se for o caso, é do governador. A preocupação do secretário é de não estimular o conflito:
– Precisamos de serenidade. Os ânimos estão acirrados e nosso papel é garantir a segurança e impedir excessos.
Aliás
A preocupação com os excessos no dia 24 não deve ser apenas das autoridades da área de segurança: cabe aos líderes políticos e aos dirigentes dos movimentos sociais trabalharem para evitar conflitos, porque ninguém ganha com a violência.
Manuela prega serenidade
Deputada estadual e pré-candidata a presidente pelo PC do B, a deputada Manuela D’Ávila ligou para o secretário da Segurança, Cezar Schirmer, e elogiou a forma serena como tratou a convocação das Forças Armadas, pedida pelo prefeito Nelson Marchezan.
Manuela faz um apelo ao respeito de parte a parte:
– É hora de garantirmos nosso direito de livre manifestação de forma pacífica, sem aceitarmos provocações de nenhum tipo .