Com a volta dos professores do Colégio Júlio de Castilhos ao trabalho, acabou, na prática, uma das mais longas greves do magistério gaúcho. O Julinho era a última escola de Porto Alegre que se mantinha totalmente fechada. Dos 70 mil professores em atividade no Estado, menos de mil se mantêm fora das salas de aula.
A última assembleia do Cpers, na sexta-feira passada, foi reveladora da desmobilização da categoria: menos de dois mil professores votaram e a proposta de retornar ao trabalho acabou rejeitada por um placar de 838 a 782 votos. A direção do Cpers, comandada por Helenir Schürer, defendeu o fim da paralisação por entender que não havia mais como avançar. A ala liderada pela ex-presidente Rejane de Oliveira fincou pé e acabou obtendo uma vitória de Pirro.
Esta é uma greve em que todos saíram perdendo. Os professores não conseguiram a garantia de pagamento em dia nem um compromisso com o pagamento do 13º salário. O Piratini condiciona a regularização da folha ao sucesso da venda das ações do Banrisul, medida que os sindicatos condenam. Para isso não seria necessária uma greve. Ao pedido de negociação das perdas da inflação, o governo respondeu com a oferta de diálogo, mas avisou que não há perspectiva de reajuste salarial. Aumento é palavra proibida no acordo de adesão ao regime de recuperação fiscal em negociação com o governo federal.
A presidente do Cpers contabiliza como vitória a retirada do projeto que acabava com a obrigação legal de pagar os salários dentro do mês, mas esse não passaria de qualquer forma na Assembleia. Se tivesse os votos, o governo já o teria aprovado.
O Cpers, como instituição, sai perdendo porque se fragilizou na queda de braço com o governo e expôs a divisão entre seus líderes. A baixa participação nas assembleias mostrou que o sindicato perdeu representatividade, consequência da partidarização do debate.
O governo Sartori se engana se pensa que ao derrotar os professores saiu vencedor. O desgaste com pais e alunos é enorme. O clima de conflito em nada contribui para a volta da tranquilidade às salas de aula.
De todos, quem mais perdeu foram os alunos. Além do prejuízo à aprendizagem, pelo tempo em que ficaram parados, terão de compensar aulas nas férias, desorganizando a vida familiar. Historicamente, a recuperação das aulas perdidas é parcial. Há, ainda, o componente subjetivo da perda de interesse por parte dos alunos. Os que estão terminando o Ensino Médio foram privados de conteúdos essenciais para um bom desempenho no Enem e no vestibular. Para boa parte dos estudantes, 2017 é um ano perdido.