Pela contabilidade do Palácio do Planalto, o plenário da Câmara dos Deputados vai arquivar nesta quarta-feira (25) a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, acusado de associação criminosa e obstrução da Justiça pelo Ministério Público Federal. O combo inclui os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. Embora Temer só precise de 172 votos para se safar, os estrategistas do governo acreditam que ele terá entre 260 e 270 votos e, sem Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República, pode governar em paz até o fim de 2018.
A primeira denúncia, por corrupção passiva, foi arquivada com 263 votos favoráveis e 227 contrários. O preço dessa vitória anunciada é incalculável. Estima-se que custará cerca de R$ 12 bilhões aos cofres públicos, somadas as emendas, os cargos e as perdas decorrentes das concessões aos aliados. A exclusão do Aeroporto de Congonhas, o mais atraente do pacote de concessões à iniciativa privada, é só um exemplo do que o governo fez para ganhar votos. A Infraero é domínio de Waldemar Costa Neto, o chefão do Partido da República. Congonhas entra na conta do PR. Há, ainda, o valor intangível de medidas como a portaria que dificulta a fiscalização do trabalho escravo, congelada por uma liminar da ministra Rosa Weber.
Editada para atender a uma demanda da bancada ruralista, que pedia mais clareza em relação ao conceito de trabalho escravo, a portaria foi além. Dificultou a fiscalização, restringiu a inclusão na lista suja do trabalho escravo e deixou a porteira aberta para a precarização das relações trabalhistas no campo. Ex-juíza do Trabalho, Rosa Weber suspendeu a portaria por liminar. Antes disso, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, já havia feito críticas à portaria, obrigando o presidente Michel Temer a prometer uma revisão do texto.
Em vez de comentar a decisão da ministra do STF, e explicitar os pontos que pretende aperfeiçoar, Temer passou a bola para o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, como se tivesse gerado e parido o monstrengo.
Contemplada com essa medida e com a redução de multas ambientais, a bancada ruralista deverá demonstrar sua gratidão na votação desta quarta, apesar da liminar da magistrada. Afinal, Temer fez a parte dele.
Aliás
O novo slogan do governo Temer poderia ser “Me ajude que eu te ajudo”. É essa a mensagem, acompanhada da promessa de liberação de emendas, que está chegando ao celular de deputados. Jerônimo Goergen (PP) foi um dos assediados.