
Entre o clamor da opinião pública e o espírito de corpo, prevaleceu o instinto de preservação e 44 senadores votaram pela rejeição das medidas cautelares impostas a Aécio Neves (PSDB-MG) pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal. Nos discursos, a maioria dos senadores que defenderam a revogação do afastamento e do recolhimento noturno de Aécio usou o respeito à Constituição como justificativa, mas um que outro foi além e disse o que nem todos tinham coragem de admitir: hoje é Aécio, amanhã pode ser qualquer um.
O discurso mais contundente contra a decisão do Supremo veio do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que se recupera de uma diverticulite, mas fez questão de comparecer à sessão para defender prerrogativas do Senado:
– Se a maioria votar não, estará somente dizendo que o mandato é inviolável.
Jucá chegou a dizer que o guardião da Constituição não é o Supremo, como imaginam os ministros, mas são os deputados e senadores, que escreveram a Carta e têm poder para emendá-la.
O senador, que na gravação feita por Sergio Machado defendeu um acordo para estancar a sangria da Lava-Jato, aproveitou o discurso para atacar o procurador Rodrigo Janot, que pediu sua prisão. Lembrou que a prisão foi negada pelo ministro Teori Zavascki, e a denúncia contra ele e Renan Calheiros, por obstrução da Justiça, rejeitada pelo Supremo.
A grande surpresa da sessão foi a presença do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que no fim de semana fraturou o ombro ao cair de uma mula. Cobrado nas redes sociais, perto do meio-dia, Caiado justificava a ausência usando sua condição de médico para explicar o diagnóstico. No final da tarde, foi ao plenário de cadeira de rodas e votou contra Aécio.
Os três senadores gaúchos votaram pela manutenção do afastamento, como haviam prometido. Ana Amélia Lemos (PP) foi a única a ocupar a tribuna para justificar seu voto. Aliada de Aécio em 2014, Ana Amélia disse que votava “sim” pela consciência, pela coerência e por seus valores:
– Quero voltar para casa, quando voltar, com a consciência do dever cumprido e com a coerência que prego.
Aliás
O PMDB foi decisivo para a salvação de Aécio Neves. O senador tucano será eternamente grato ao presidente Michel Temer, que mexeu os cordões a seu favor.