Se o governo acreditava que pagando primeiro aos servidores do Executivo que ganham menos conseguiria acalmar os professores em greve há quase um mês, enganou-se. A assembleia realizada hoje no Gigantinho e o protesto que se seguiu mostraram uma ampliação da mobilização, ainda que sejam divergentes os números sobre a adesão à greve. O governo decidiu agora há pouco que vai cortar o ponto de quem não trabalhou a partir de 6 de setembro. Em nota oficial (veja íntegra abaixo), o Palácio Piratini diz que "decisão de cortar o ponto de grevistas atende ao interesse público".
O Cpers diz que 75% das escolas estão paradas. A SEC calcula que a adesão, total ou parcial, não passa de 35% e está concentrada nas cidades médias e grandes. Independentemente de quem tenha razão em relação aos números, é certo que há milhares de crianças e adolescentes sem aula. Como e quando serão recuperadas essas aulas é a pergunta que está na cabeça dos pais e dos alunos. Há entre os prejudicados pela greve alunos do 3º ano do Ensino Médio que precisam do certificado de conclusão para se matricular na faculdade, se forem aprovados nos vestibulares cuja temporada começa em dezembro. Traduzindo, o ano letivo de 2017 está ameaçado.
Como a decisão da assembleia é estender a greve até que o último professor tenha recebido o salário de setembro _ e então reavaliar o movimento _ tem-se um impasse. Embora 90% dos salários dos professores deva ser quitada até o dia 11, restarão 10% das matrículas para os próximos dias. E a previsão do governo é concluir o pagamento lá pelo dia 17. Ainda que voltem às aulas no dia 17, duas semanas depois o problema do atraso voltará, porque não há perspectiva de entrada de receitas extraordinárias capazes de cobrir a folha de outubro, que é superior a R$ 1 bilhão.
Ao anunciar o pagamento do salário de quem ganha até R$ 1.750 líquidos, o governo informou que esse valor contemplava 47 % das matrículas no magistério. Pelos cálculos do Dieese, apenas 19,78% dos professores e 48% dos servidores de escola receberam os salários hoje. Não é exatamente uma divergência: como boa parte dos professores tem dois contratos, o número de pessoas com salário em dia é menor. É possível que um professor com salário de R$ 3 mil (matrícula única) não tenha recebido nada neste primeiro dia, enquanto o colega com dois contratos recebeu R$ 3,5 mil.
Confira a nota do Palácio Piratini:
"NOTA OFICIAL
Decisão de cortar o ponto de grevistas atende interesse público
Hoje, dia 29 de setembro, 47% dos servidores da Educação já receberam seus salários integralmente. Até o dia 11 de outubro, praticamente todos estarão quitados, assim como ocorre com a maioria dos trabalhadores em geral. Mesmo assim, com o apoio irresponsável da oposição, o Cpers decidiu manter a greve por período indeterminado.
Não chegamos a esta crise por vontade do atual governo. E para sair dela, precisamos de responsabilidade política e financeira, não de populismo e demagogia. Estamos fazendo todos os esforços para recuperar os serviços públicos e normalizar o pagamento dos servidores. O governo sempre manteve o diálogo e, nesta semana, anunciou o pagamento prioritário a quem ganha menos e a indenização pelos dias de atraso.
Alertamos a população para a tentativa de gerar tensão social, comandada justamente pelos atores políticos que agravaram a atual crise quando estavam no governo. Infelizmente, não estão preocupados com a educação, mas com seus próprios objetivos eleitorais.
Em virtude disso, tendo em vista o interesse público, não resta outra alternativa senão o corte do ponto dos grevistas. Conclamamos os professores para que mantenham as aulas. Pedimos a colaboração dos pais e da comunidade escolar. A responsabilidade pela preservação do ano letivo é compartilhada por toda a sociedade. O governo do Estado segue aberto ao diálogo."