As redes sociais deturparam o sentido da palavra amigo, uma das mais bonitas do dicionário. Em vez de "coisa pra se guardar/ debaixo de sete chaves/ dentro do coração", como na Canção da América, de Milton Nascimento, o espírito é daquele exagero do Roberto Carlos: "Eu quero ter um milhão de amigos/ E bem mais forte poder cantar". O Facebook limita a 5 mil, mas quem deseja ter um milhão de amigos vai criando perfis adicionais. São os "amigos do Face", um universo que contempla desde os irmãos até criaturas de quem nunca ouvimos falar e que não temos ideia de como foram parar na nossa teia.
Eu não quero ter um milhão de amigos. Porque não há como dar conta dessa multidão. Ressinto-me de não conseguir dar a atenção que merecem os amigos conquistados ao longo da vida. De não conseguir responder uma a uma as mensagens que recebo no meu aniversário ou quando conquisto alguma vitória. De não poder agradecer um a um aos que me dirigem uma palavra de apoio nas horas ruins.
Gostaria de telefonar no dia do aniversário dos meus melhores amigos, de mandar flores, de oferecer um livro, de convidar para almoçar ou de escrever um bilhetinho a mão, em vez de publicar uma mensagem no mural. Mas o tempo nos cobra o preço de uma vida repleta de compromissos e acabo dando graças à tecnologia que nos conecta e permite esses encontros virtuais.
Tenho amigos de infância, de escola, do trabalho. Pessoas com quem sei que poderei contar se precisar de um ombro e a quem oferecerei o meu se for o caso. Mas tenho também um grupo que entrou na minha vida como leitor, ouvinte ou telespectador e mudou de status por uma telefonema, uma carta, um encontro – e que, tenho certeza, continuarão quando eu não estiver mais na mídia.