O recesso do Congresso, que começa hoje e vai até o dia 31 de julho, dará ao presidente Michel Temer tempo para respirar, articular apoio com seus aliados e colocar na rua o discurso otimista do fim da crise econômica. O governo continua contando os votos para o arquivamento da denúncia elaborada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e usará os 14 dias de férias no Congresso para intensificar a conversa com os deputados que cobram por mais atenção.
Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo mostra que desde o dia 29 de junho, dois dias depois da apresentação do pedido de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), até o último domingo, o peemedebista recebeu 82 parlamentares e 16 senadores – 15% dos 513 deputados e 20% dos 81 senadores. Para comparar: entre 1º e 18 de junho, 31 deputados foram recebidos no Planalto.
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Rachado no plenário, o centrão, que durante o impeachment de Dilma Rousseff teve relevância maior, hoje se diz abandonado pelo governo. Em troca da proteção a Temer, o grupo pleiteia as vagas ocupadas pelo PSDB na Esplanada. A justificativa é de que os tucanos não defendem abertamente a gestão da qual fazem parte. Fazendo jus à fama de conciliador, diante das notícias, o próprio presidente tratou de ligar para os ministros do PSDB para dizer que eles, por enquanto, ficarão onde estão.
Além da articulação política nos bastidores, Temer quer convencer os brasileiros de que a crise acabou. Nesta segunda-feira, com a ajuda do marqueteiro do Planalto, gravou e publicou um vídeo no Twitter onde sentencia:
– Vencemos a maior recessão de nossa história.
Sem uma linha sobre a denúncia, o pronunciamento foca nos feitos do governo, incluindo a boa safra de grãos, a aprovação da reforma trabalhista, queda da inflação e do juro e a melhora no índice de emprego. O programa do PMDB Ponte para o Futuro também foi ressuscitado no discurso.
O sucesso da estratégia dependerá do protocolo de outras denúncias que Janot já prometeu entregar. Se chegar antes do recesso e se for votada em plenário com o primeiro pedido de inquérito, os deputados poderão enterrar de uma vez só a pretensão da PGR de investigar o presidente por corrupção passiva e por obstrução de Justiça.