Aliados na última eleição, em 2014, e antagônicos desde o impeachment de Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o atual, Michel Temer, dão sinais de que frequentaram a mesma escola quando o assunto é terceirização da culpa. Quando o pedido de investigação feito pela Procuradoria-Geral da República foi oficializado, o peemedebista tratou de desqualificar a denúncia montada por Rodrigo Janot, chamando-a de "peça de ficção".
– As regras mais básicas da Constituição não podem ser jogadas no lixo, tripudiadas pela denúncia, que busca destruição e vingança – bradou Temer, um dia depois de o pedido de inquérito chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF).
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Pela manhã, Lula tratou de repetir o roteiro que vem seguindo desde que foi levado coercitivamente para depor na Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas. Intensificou seus ataques aos "meninos de Curitiba", como se refere com sarcasmo aos procuradores federais que cuidam da Operação Lava-Jato no Paraná, e criticou o juiz Sergio Moro, autor da sentença que o condenou em primeira instância.
– O Estado de direito democrático está sendo jogado na lata de lixo – disse o petista, repetindo o que quis dizer Temer dias antes.
À tarde, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, a defesa do presidente, liderada pelo advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, declarou que há uma "cultura punitiva" no país e adaptou a frase preferida de Janot quando citou Lula:
– Pau que mata Chico, mata Francisco. Pau que mata Michel, mata Lula.
O ex-presidente e seu ex-aliado, com seus seguidores, também usam os microfones para jogar a culpa de seus processos na imprensa, atitude conveniente por ora. Para criar o ambiente do "inimigo em comum" e desvirtuar o debate sobre o mérito de acusações e condenações, políticos do mundo inteiro usam essa tendência e atacam veículos de comunicação.
Aliás
Enquanto deputados discutiam o relatório da denúncia contra Michel Temer, o deputado Carlos Henrique Gaguim (Podemos-TO), que votaria a favor do presidente, tentou convencer os colegas:
– O povo esquece isso até as eleições.
A liderança de seu partido o substituiu na CCJ uma hora antes da votação.