Anunciada no meio da noite de sábado, a decisão do conselho federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de protocolar um pedido de impeachment do presidente Michel Temer aumenta a pressão pela renúncia. É uma dose adicional de fermento na crise política que eclodiu na quarta-feira, com a divulgação da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
O pedido da OAB não é decisivo, mas para quem já está enfraquecido como Temer, qualquer empurrão é desestabilizador. Em que pese o esforço do presidente Claudio Lamachia, a OAB, como instituição, não tem mais o peso que teve no passado. Em tempos de empoderamento do cidadão que se expressa pelas redes sociais e vai às ruas para protestar, uma entidade de advogados tem peso relativo na formação da opinião. Mas que é constrangedor, é: Temer está sendo empurrado pela classe à qual pertence.
Em 1992, havia dezenas de pedidos de impeachment Fernando Collor, mas o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, só aceitou o que considerou representativo da sociedade, o assinado pela OAB e pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Hoje, também a ABI perdeu força.
A preocupação de Temer é com os grandes veículos de comunicação que estão pedindo sua renúncia. É com o Supremo Tribunal Federal que vai investigá-lo por corrupção passiva, obstrução da Justiça e associação criminosa. É com o risco de debandada dos aliados. Não é bem com a falta de apoio popular, que isso ele nunca teve mesmo.
O prosseguimento de um Processo de impeachment depende do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado do presidente. O que embasa os pedidos é muito mais forte do que as pedaladas que sustentaram o requerimento de Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal contra Dilma Rousseff. A diferença é que o presidente da Câmara era Eduardo Cunha e estava em guerra com o PT.
A manifestação de Temer, no início da tarde de sábado, deu-lhe uma sobrevida, mas à noite, quando o Jornal Nacional reprisou trechos da delação dos Batista e do operador da JBS, Ricardo Saud, o pronunciamento virou pó.
A semana começa com o presidente mais fraco do que nunca. Quanto tempo vai resistir? A resposta depende do PSDB. Se os tucanos debandarem, não haverá futuro para Temer. A saída do PPS e do PSB é irrelevante, até porque Raul Jungmamn decidiu continuar no Ministério da Defesa. E o PSB, partido do ministro das Minas e Energia, já havia caído fora antes.