Foi um encontro respeitoso – e amistoso – o do juiz Sergio com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, sábado, no Brazil Forum 2017, em Londres. A jornalista Fernanda Zaffari, que estava lá, conta que quem esperava um embate saiu decepcionado.
Os dois sentaram-se lado a lado. Cardozo falou primeiro e saudou o juiz no mesmo tom em que citou os demais membros da mesa. A saudação de Moro foi mais demorada e ele até brincou:
– Um cumprimento especial ao ministro José Eduardo Cardozo. Eu digo que não dei nenhuma cotovelada nele aqui ... como se não se pudesse conversar.
Os dois riram. A plateia também.
Cardozo insistiu na tese do golpe, mas condenou a corrupção. Moro foi incisivo em relação à Lava-Jato e defendeu as prisões preventivas.
Na mesa, na London School of Economics para discutir O Reequilíbrio de Poderes: O poder do Judiciário na Democracia Contemporânea Brasileira, cada um teve 15 minutos para falar. Depois da brincadeira sobre a cotovelada que não ocorreu, Moro Citou o ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff e o elogiou:
– Como foi dito pelo ministro (Cardozo) e pelo ex ministro Patrus Ananias, a democracia é um espaço acima de tudo de liberdade, e nesta liberdade é natural que haja divergências, o importante também, e é central numa democracia, é aquele espírito de tolerância... Fica aquele cumprimento especial. O ministro é um jurista de qualidade e revelou isso pela fala dele.
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Na plateia, houve vaia se aplausos para os dois. No final, algumas pessoas colocaram máscaras com o rosto do ex-presidente Lula para protestar contra Moro. As mesmas pessoas promoveram uma manifestação gritando o nome de Lula na saída do auditório.
O primeiro encontro entre Moro e Cardozo ocorreu na noite de sexta-feira, em uma recepção na casa do embaixador brasileiro em Londres, Eduardo dos Santos, com a presença de outros palestrantes, como a consultora da ONU Claudia Costin, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), o ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso e a ex-ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira. O juiz e o ex-ministro trocaram apenas um breve cumprimento.
O Brazil Forum é organizado por estudantes brasileiros em universidades do Reino Unido, entre elas a London School of Economics e Oxford. Neste domingo, Moro foi a Oxford e acompanhou atentamente a todas as palestras do segundo dia do Brazil Forum 2017, assim como o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.
Haddad participou dos dois dias de evento, em Londres, no sábado, e em Oxford, no domingo. Garantiu que não é candidato a nada, que está reorganizando a vida e fazendo política em casa. Perguntado sobre por um dos participantes sobre uma eventual chapa encabeçada por Ciro Gomes, com ele de vice, não negou, apenas reafirmou que estava em casa.
Outros trechos da palestra de Moro, destacados por Fernanda Zaffari:
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
"A presunção de inocência tem dois aspectos. Um aspecto probatório: só se pode ser condenado com prova categórica, com prova acima de qualquer dúvida razoável, é uma regra de prova. Essa regra não pode sofrer qualquer tipo de flexibilização. É regra sagrada de ouro no Direito Processual Penal."
PRISÕES PREVENTIVAS
"Tem sido um tema polêmico, mas o que tenho falado em minhas decisões e eventualmente em público, de uma maneira abstrata, não defendo nada diferente da aplicação ortodoxa da lei processual penal. Essa lei diz o seguinte, a prisão preventiva é excepcional. Tem que se evitar o risco máximo de um inocente ser preso antes de um julgamento.
O primeiro diretor da Petrobrás que foi preso, lá em 2014, não houve uma ordem de prisão imediata contra ele, houve uma ordem de busca e apreensão. Alguns dias depois se constatou que familiares dele estavam ocultando provas.
EXAGERO NAS PRISÕES
"Fala-se num exagero, pode-se divergir quanto a isso. Numericamente, temos hoje talvez sete pessoas acusadas de crime presas preventivamente sem que tenham sido julgadas. Não me parece que seja um numero exagerado. Em qualquer vara criminal em capital de estado se tem lá juízes decretando prisões muito mais numerosas a cada dia a cada semana a cada mês. E quando se fala nestas prisões não estamos falando em prisões de pessoas vulneráveis, estamos falando em prisões de pessoas poderosas."