Criei este espaço em ZH Domingo Digital para falar de coisas que não falo normalmente na coluna Política+. Amenidades, em outras palavras. Mas hoje preciso abrir uma exceção para dar voz a dois leitores que sacudiram minha manhã de sábado com suas cartas. Não queria, mas vou falar das cicatrizes da violência, até porque, como é de praxe, tem gente querendo atribuir o aumento da criminalidade à mídia, sempre ela, porque noticia e comenta.
A primeira carta é de Marco Almeida, pai do Frederico, aquele estudante de Geologia assassinado quando deixava o campus da Unisinos. A outra é de uma leitora que pede para não ter seu nome revelado e que, por razões que nós duas sabemos, embora nunca tenhamos nos encontrado, vou chamar de Monalisa.
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Mais segurança, por favor
Pelos filhos de Cristine
Diz o pai do Frederico:
"Prezada colunista, Li com muita atenção sua coluna de hoje.... Escrevo para pedir que insista neste tema. Em novembro de 2015, perdemos aos 22 anos, nosso único filho Frederico Colnaghi de Almeida que ao sair da Unisinos, onde cursava Geologia, foi vítima de um latrocínio. Desde aquele momento carregamos uma dor que não acaba. Como formadora de opinião acredito que manifestações dessa natureza podem ajudar e conscientizar aqueles que têm o dever de proteger a sociedade a encontrar caminhos para tornar uma sociedade mais segura... Peço, humildemente, não desista desse tema... Grato Marco Almeida".
A carta de Monalisa, que reproduzo com as abreviações, diz:
"Bom dia cara Rosane, Talvez vc não venha a ler meu e-mail, em meio a tantos... mas, já faz tempo q queria me manifestar, e hj, lendo tua coluna, não resisti mais!!!! Em 30/12, próximo passado, as 18 h, sai de minha residência e estava indo a PET buscar meus yorkshire, são 2; fui alvejada por 2 tiros, um deles ainda em movimento, que teriam sido certeiros, um no vidro do motorista e um no pára-brisa; nada fiz, nada levaram, e, Graças a Deus, uma vez q só tenho podido contar com ELE, ainda não sei o q aconteceu!!!! Me deram 2 tiros, apenas estilhaços, , e prejuízo financeiro!!!! Resumindo, a PM não veio em 50 min de espera, fui socorrida pelos moradores locais e familiares!!!! Hj tenho medo de sair na rua, estou tentando blindar meu carro, mas são 50 mil reais; e, qdo todos me dizem: NÃO LEVARAM nada... penso comigo, levaram tudo!!!! Toda minha paz, tranquilidade e tristeza de ser catarinense e ter escolhido POA para viver!!!! E este número 788, desde 02/1 qdo saiu na ZH, é presente na minha vida por n ter sido a 789; Acho q não dá mais para esperar nada!!! Precisamos exigir providências; tenho chorado por cada mulher, cada vítima q não tinha a blindagem de Deus como eu, e tenho sofrido!!! Não podemos admitir q nossas vidas custem tão pouco, pq o governo não nos conhece, mas nossos amigos e familiares reconhecem nosso valor!!!! Ótimo final de semana e parabéns!!! Vc q tem a mídia na mão, inicie alguma campanha, qualquer coisa, e verás qtas pessoas, como EU, te acompanharão!!! Abraço, PS, favor não divulgar nome!!!! Sempre temos medo... "
Então é isso. Como diz a leitora, mesmo quando não levam nada, levam tudo. Porque levam o direito de ir e vir em paz.