Abalado pelo resultado devastador da eleição municipal e sob ameaça de uma debandada, o Partido dos Trabalhadores reúne seu diretório nacional na quinta e na sexta-feira para fazer a autópsia da derrota e discutir saídas de curto, médio e longo prazos. O diretório deverá acatar a sugestão de líderes como os representantes do Rio Grande do Sul, que exigem a convocação de um congresso nacional para discutir o que fazer com a mensagem das urnas. Ficou claro que se esgotou a estratégia de terceirizar as responsabilidades e atribuir seus problemas à "grande mídia".
O ex-ministro Miguel Rossetto, que acompanha a eleição para presidente dos Estados Unidos em Nova York, deixou sua posição expressa antes de embarcar:
– Nada de sair do PT. Temos que aprender, modificar posturas e seguir lutando pelas mudanças de que o Brasil precisa.
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O ex-governador Tarso Genro, que na semana passada admitiu até deixar o PT em último caso, se o partido não se reciclar, acredita que a saída é uma "renovação profunda", com a troca do comando e a apresentação de um programa coerente de reformas, sem se ater aos prazos eleitorais:
– Minha avaliação é de que 2018 é importante, mas não é isso que deve nortear nossa reflexão. A crise não é apenas do PT, é do sistema partidário em geral, e não se resolve em dois anos.
O preferido de Tarso para ocupar a presidência do PT é o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Outros nomes cogitados pelos petistas são os do ex-presidente Lula, do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e do senador Lindbergh Farias (RJ).
Para as próximas eleições, Tarso é partidário da formação de uma frente – inspirada na Frente Ampla, do Uruguai – que una pessoas identificadas com os mesmos princípios, o que significa buscar acordos com o PDT, o PC do B, o PSOL e até o PTB. Se esses partidos querem aproximação com o que restar do PT, é outra história.
Nesta segunda-feira, depois de uma reunião da bancada federal com o ex-presidente Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, adiantou que o congresso vai se realizar em 2017 e que a eleição para a troca de comando será antecipada. Na reunião do diretório, será votada também a indicação da ex-presidente Dilma Rousseff para o cargo de presidente do conselho curador da Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT.
A principal variável para a reinvenção do PT não está sob controle dos seus líderes. É o andamento da Lava-Jato que vai definir se o destino do partido é a morte por inanição ou o recomeço a partir de um processo de revisão de suas práticas. A "criminalização" de que Rui Falcão reclama é a colheita do que a legenda plantou ao adotar práticas que combatia na oposição e ao entrar no vale-tudo por um projeto de poder.
O futuro de Lula e do PT passa pela delação de Marcelo Odebrecht e de outros executivos da empreiteira e, principalmente, pela caneta do juiz Sergio Moro.