Eleito com 60% dos votos válidos, Nelson Marchezan ganhou dos porto-alegrenses um crédito de confiança para colocar em pé as propostas feitas na campanha. No pacote, há promessas objetivas, como a de abrir oito postos de saúde até as 22h, cercar a cidade eletronicamente para aumentar a segurança e outras imprecisas ou até ambíguas. Quem votou no candidato do PSDB apostou na mudança e na garantia de que ele não vai "fazer mais do mesmo".
Na definição da estrutura que a prefeitura terá a partir de 2017 e na montagem do secretariado, será possível conferir se o compromisso de modernização é real. Nas entrevistas que deu depois de eleito, Marchezan reafirmou que não fará o clássico loteamento de cargos para garantir apoio da Câmara. Para ser secretário, o candidato terá de apresentar credenciais técnicas e éticas. Quem tiver ficha suja não será nomeado. Se surgir qualquer indício de envolvimento em irregularidades, será afastado até que fique comprovada a inocência. Os secretários trabalharão com metas. Se não cumprirem, serão aconselhados a pedir demissão. Essa é a tradução que Marchezan quer dar para o seu conhecido "pavio curto", responsável pela alta rotatividade em sua assessoria.
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Na entrevista ao Gaúcha Atualidade, Marchezan abriu a primeira polêmica depois de eleito, ao dizer que, se a Carris não sair do vermelho, ele ou o próximo prefeito acabará privatizando-a. Não disse qual é o tempo que a nova direção terá para equilibrar as contas, mas reafirmou que é inadmissível a prefeitura injetar R$ 55 milhões por ano na empresa.
Por que a Carris dá prejuízo? A atual administração cita alguns pontos que merecem reflexão:
– os empregados têm mais benefícios do que os das empresas privadas de transporte coletivo;
– a Carris opera linhas que não interessam ao setor privado e precisa ter um esquema de contingência para atender a emergências do sistema;
– 60% dos ônibus têm ar- condicionado (nas demais o índice é de pouco mais de 20%);
– os fornecedores de veículos, peças e acessórios cobram mais porque é pública e temem atrasos nos pagamentos. Esse é o ponto de partida para quem assumir a tarefa de gerenciar a empresa que deveria servir como espelho para o sistema.
ALIÁS - Para aprovar mudanças radicais na prefeitura, Marchezan terá de usar o crédito conquistado nas urnas. Se deixar para o ano eleitoral de 2018, poderá ser tarde demais.
SEM FEUDOS - uma das providências de Nelson Marchezan para evitar dor de cabeça será desmontar os feudos que se formaram nos últimos anos. A SMOV, por exemplo, não ficará com o PTB. O PP não comandará o órgão que resultar da fusão do DEP com o DMAE.