Começa a ser escrito nesta quinta-feira o último capítulo da saga da primeira mulher a se eleger presidente da República no Brasil. O julgamento de Dilma Rousseff no Senado transformou-se em uma formalidade com a antecipação do resultado nas fases anteriores e na manifestação prévia dos julgadores, que não hesitam em abrir o voto e justificá-lo.
Eleita em outubro de 2010 e reeleita em 2014, Dilma conheceu neste intervalo de seis anos o topo do ranking de popularidade (no primeiro mandato) e o fundo do poço em matéria de aprovação popular, às vésperas da aceitação do processo de impeachment pela Câmara. Foi essa falta de apoio, combinada com os maus resultados da economia, a responsável pelo desfecho que se avizinha. E as pedaladas fiscais? Essas foram apenas o pretexto legal dos formuladores do pedido de impeachment, para que ele coubesse na Constituição, que condiciona o afastamento definitivo à existência de um crime de responsabilidade.
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É por isso que Dilma cairá jurando inocência e, ao deixar Brasília, viajará pelo mundo para denunciar que está sendo vítima de um golpe parlamentar.O Supremo Tribunal Federal já se manifestou dizendo que golpe não é, porque todo o rito previsto na Constituição está sendo cumprido. No próprio PT, há quem considere golpe uma palavra inadequada, caso do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Nos últimos meses, aliados de Michel Temer venderam a ideia de que Dilma renunciaria para escapar do desgaste do julgamento. Outro, em seu lugar, talvez já tivesse renunciado. Quem convive com ela, como o ex-ministro José Eduardo Cardozo, seu advogado de defesa, diz que só quem não conhece Dilma poderia cogitar a renúncia. Seria uma capitulação e ela, que na juventude foi guerrilheira e resistiu à tortura sem entregar os companheiros, jamais facilitaria a vida dos seus algozes renunciando ao mandato.
Até há poucos dias, havia dúvida se ela compareceria ao julgamento ou se a defesa ficaria exclusivamente por conta de Cardozo. Dilma anunciou que vai. Seu depoimento, seguido de questionamentos dos senadores, na próxima segunda-feira, será histórico. Na derradeira tentativa de convencer os parlamentares de sua inocência, Dilma terá de superar a dificuldade em falar de improviso, em um ambiente francamente hostil. A História exige que ela vá ao Senado e fale olhando para os juízes, a maioria antigos aliados e alguns deles ex-ministros do seu governo que mudaram de lado por oportunismo.
Aliás
Todo o esquema de isolamento das testemunhas em um hotel, impedidas até de usar telefone celular, não passa de formalidade: o teor dos depoimentos que darão já é conhecido dos senadores.