O primeiro dia do julgamento da presidente Dilma Rousseff no Senado foi um repeteco das sessões que precederam este último ato. Nenhuma informação nova por parte da defesa ou da acusação. Os argumentos foram os mesmos repisados ao longo dos últimos três meses. Até nos bate-bocas, os mesmos personagens de um lado e de outro, com Gleisi Hoffmann dizendo que nenhum senador tem moral para julgar a presidente afastada e os colegas reagindo indignados e mostrando que uma das testemunhas de defesa de Dilma é funcionária do gabinete da senadora.
Ouvido como informante, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, reafirmou o que sustentou em outro depoimento: que Dilma cometeu crime de responsabilidade ao autorizar abertura de créditos orçamentários suplementares sem autorização do Congresso.
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Foi tudo tão previsível que o maior destaque do dia ficou por conta da informação de que o ex-presidente Lula vai acompanhar Dilma no depoimento de segunda-feira no Senado, numa tentativa derradeira de salvar o mandato de dela. A pergunta é: será que a presença de Lula, a estas alturas do campeonato, ajuda ou atrapalha? Lula inventou Dilma como candidata em 2010, mas também é, em boa parte, o responsável pelo naufrágio.
Os petistas podem perder a voz gritando que Dilma é inocente e que está sendo vítima de um golpe, mas não podem apagar o fato de que o partido contribuiu para esse desfecho. Se fossem apenas as pedaladas, Dilma estaria hoje preparando as malas para a reunião do G-20 na China. Ela está prestes a perder o mandato porque a economia desandou e com os números negativos caiu também a sua popularidade.
É inquestionável o peso da Operação Lava-Jato no processo de impeachment, mesmo que formalmente o escândalo da Petrobras não figure no processo. Os desvios na Petrobras não começaram no governo Lula. Mais de um delator mencionou desvios na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas as investigações da Lava-Jato indicam que as duas gestões de Lula foram um período fértil para a corrupção compartilhada entre o PT e os principais partidos da base do governo, notadamente o PMDB e o PP.