Os discursos dos senadores e os votos nas etapas anteriores do processo de impeachment indicam que a presidente Dilma Rousseff será definitivamente afastada do cargo nesta quarta-feira. Os petistas seguirão dizendo que ela foi vítima de um golpe, talvez recorram ao Supremo Tribunal Federal, com remotas chances de sucesso, visto que a Corte referendou todos os atos do Congresso e o presidente Ricardo Lewandowski presidiu o julgamento. Encerrada esta etapa, resta a pergunta: o que será o amanhã com o país sob o comando de Michel Temer?
A posse de Temer em caráter definitivo deve ocorrer ainda nesta quarta. Livre do apêndice de "interino", Temer terá de começar a mostrar a que veio. Os cem dias de trégua, que costumam ser dados aos eleitos, Temer gastou na interinidade, período em que só apresentou uma carta de intenções assinada por ele e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Com essa carta, ganhou um voto de confiança dos agentes econômicos. Nesse período, a Bolsa subiu, o dólar baixou e a economia começou a dar sinais de recuperação. A partir da efetivação, palavras não serão suficientes.
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As pesquisas mostram que Temer não tem apoio popular. Sua avaliação é pouco melhor do que a de Dilma antes da queda. Com que capital o presidente enfrentará as resistências naturais de um Congresso fisiológico, que não gosta de votar medidas impopulares?
Há reformas urgentes que o governo precisa propor e aprovar. E há aumentos de gastos cuja aprovação deveria ser freada para mostrar ao país que o ajuste fiscal não será feito apenas às custas de quem ganha menos. Precisa reformar a previdência e instituir a idade mínima para aposentadoria? Os estudos técnicos indicam que sim, embora a oposição a Dilma Rousseff – hoje acomodada no governo interino – tenha aprovado o fim do fator previdenciário para desgastar a então presidente. Para pedir esse sacrifício aos trabalhadores que se aposentam com o máximo de R$ 5,1 mil pelo INSS, o governo tem de segurar o reajuste do subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que significará um aumento brutal de gastos para o país, pelo efeito cascata que produz.
Antes de iniciar novas obras, Temer terá de concluir as que estão inacabadas. No caso do Rio Grande do Sul, é urgente retomar a duplicação da BR-116 entre Guaíba e Pelotas e acelerar a construção da ponte do Guaíba. Embora contratada e urgente, a duplicação da BR-290 entre Eldorado do Sul e Pantano Grande não tem perspectiva de ser retomada. Foi por isso que o governador José Ivo Sartori propôs sua inclusão no plano de concessões, ampliando o trecho até o entroncamento com a BR-392.
O governo gaúcho também sugeriu ao governo federal que repasse ao setor privado, mediante cobrança de pedágio, outras estradas essenciais para o desenvolvimento do Estado. Entre elas, a BR-386 de Canoas a Iraí. A expectativa do secretário dos Transportes, Pedro Westphalen, é de que as concessões deslanchem com a confirmação de Temer como presidente.
Aliás
Encerrada a votação do impeachment, a Câmara terá de apressar a cassação de Eduardo Cunha, sob pena de comprometer o pouco que lhe resta de credibilidade. Os sinais de que Cunha pode escapar são preocupantes.