No Brasil, aumento de imposto tem duas definições antagônicas. Para quem está no poder, é a medida extrema, mas necessária para equilibrar as contas. Para os opositores, é a solução fácil de quem não quer cortar gastos supérfluos e joga a conta para o contribuinte. O aviso do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que o governo poderá propor "aumentos pontuais" é a encarnação dessa dicotomia.
Se o ministro está dizendo que, talvez, quem sabe, seja preciso propor “aumentos pontuais”, preparem seus bolsos porque são consistentes os sinais de que vem mordida por aí. O chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, confirmou que o aumento de impostos é uma possibilidade, mas que só será usado pelo presidente interino Michel Temer "em último caso".
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O PMDB de Temer é um partido que discursa contra o aumento de impostos quando está na oposição, mas não hesita em praticá-lo ao assumir o poder, sempre justificando a medida com o discurso de que herdou uma situação caótica e, para corrigi-la, tem de elevar tributos.
Os gaúchos conhecem essa prática: dos quatro governos eleitos pelo PMDB após a redemocratização, três aumentaram o ICMS – Antônio Britto (1995-1998), Germano Rigotto (2003-2006) e José Ivo Sartori (atual). O mesmo PMDB impediu que Olívio Dutra (PT) e Yeda Crusius (PSDB) elevassem as alíquotas. Os três peemedebistas aprovaram aumentos pontuais e temporários, com os quais seus sucessores não puderam contar.
O curioso no discurso de Meirelles é que ele admite a elevação de impostos, mas diz que isso só será proposto mais tarde, perto da entrega da proposta orçamentária ao Congresso. Padilha especificou: no final de agosto, o governo baterá o martelo, levando em conta o comportamento da arrecadação. Final de agosto quer dizer após a votação do impeachment no Senado.
Apesar de acenar com aumento de impostos, o governo Temer avalizou aumentos bilionários de gastos, ao sancionar o reajuste salarial do Judiciário e ao aumentar o valor do Bolsa Família, depois de ter criticado a presidente Dilma Rousseff por anunciar a correção às vésperas da votação do impeachment na Câmara.