No dia em que o Senado instalou a comissão especial do impeachment, majoritariamente oposicionista, foram divulgados os detalhes de uma pesquisa do Ibope com novos indícios de que não será fácil a vida do vice-presidente Michel Temer a partir de 12 de maio, quando deverá assumir a cadeira de presidente da República.
O Ibope mostra que, para resolver a crise política, 62% dos entrevistados querem o afastamento da presidente Dilma Rousseff e, também, do vice. Para 25% dos eleitores, o melhor caminho é Dilma continuar seu mandato, com um novo pacto entre governo e oposição. Só 8% acham que a melhor saída é Dilma ser afastada e Temer assumir o poder.
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Dificilmente a pesquisa terá algum efeito sobre o pensamento dos senadores, a quem caberá decidir o futuro do processo, mas os resultados animam os defensores da antecipação da eleição.
Na sessão em que foi instalada a comissão, os senadores do PT fizeram discursos inflamados contra a indicação de Antônio Anastasia (PSDB-MG) como relator, alegando que ele não é imparcial. Na verdade, foram manifestações protocolares: os petistas sabem que não é o conteúdo do relatório nem o resultado da comissão o que importa. É a manifestação do plenário, onde é preciso maioria simples para abrir o processo e afastar a presidente por até 180 dias.
Assusta no resultado do Ibope o baixo apreço pela democracia. Convidados a escolher entre três frases a que melhor representa seu pensamento, somente 40% dos entrevistados responderam que “a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo”. Para 34%, “dá na mesma se um regime é democrático ou não”. E 15% concordaram, que “em algumas circunstâncias, um governo autoritário pode ser preferível a um governo democrático”. E esse não é o dado mais alarmante: 49% se declaram “nada satisfeitos” com o funcionamento da democracia no Brasil e 34% se dizem “pouco satisfeitos”.
É em meio a esse clima de desconfiança que Temer vem montando sua equipe, convicto de que o impeachment será aprovado na votação marcada para o próximo dia 11. A incerteza explica a resistência do senador Aécio Neves e do governador Geraldo Alckmin à participação do PSDB no governo. Por esse raciocínio, se Temer for mal, arrastará junto os tucanos e suas chances de retomar o poder.
Capitaneada pelo senador José Serra, a ala que defende a entrada no ministério tem o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que só chegou ao Planalto porque ganhou visibilidade no governo de Itamar Franco, após a derrubada de Fernando Collor. Os tempos são outros, mas Serra na Fazenda poderia ser para Temer o que FHC foi para Itamar, como condutor do Plano Real.
Ex-presidente do Banco Central. Armínio Fraga (que seria o ministro da Fazenda de Aécio Neves) também apoia Serra na condução da política econômica de Temer, o que não deixa de ser uma qualificada carta de apresentação ao mercado.