Para quem esperava uma atitude drástica, foi frustrante a primeira manifestação da presidente Dilma Rousseff após a aprovação do impeachment. Em vez de lançar a campanha por "diretas já", como gostaria uma parte do PT, ou de renunciar, como desejaria a oposição, Dilma apenas anunciou que vai resistir e lutar até o último soldado pela manutenção do mandato, em respeito aos 54 milhões de votos que recebeu em outubro de 2014.
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Abatida, Dilma começou a conversa com os jornalistas dizendo que se sentia triste e injustiçada. Repetiu o discurso de que foi vítima de um golpe parlamentar, comandado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a partir de uma conspiração encabeçada pelo vice-presidente Michel Temer. A presidente invocou o testemunho dos jornalistas que, à época da abertura do processo, noticiaram que se tratava de uma vingança de Cunha diante da decisão do PT de votar contra ele no Conselho de Ética da Câmara:
– São inconsistentes as razões que fundamentam esse pedido. Não existe nenhum ato ilícito praticado por mim.
Dilma confirmou que sua linha de defesa será a revelada na véspera pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo:
– Vou insistir em que não há crime. Todos os atos que pratiquei foram embasados em pareceres técnicos e jurídicos.
Recorrer ao Supremo Tribunal Federal será a última cartada para tentar evitar a perda do mandato. Antes, o governo tentará ganhar tempo no Senado, na expectativa de que o desgaste de Michel Temer leve as pessoas às ruas contra ele. São tábuas de salvação às quais Dilma e os governistas se agarram na esperança de deter um processo com aparência de irreversível.
Por mais que a relação com Renan Calheiros seja próxima ao ponto de ele ter atendido ao convite para ir ao Planalto na segunda, a situação de Dilma no Senado não é nada favorável. A oposição tem votos de sobra para aprovar a abertura do processo, o que obrigará a presidente a se afastar do Palácio do Planalto por até seis meses, enquanto durar o julgamento.
Nesses seis meses, Michel Temer terá a caneta que nomeia e o apoio da maioria da Câmara para aprovar as medidas que Dilma não conseguiu aprovar por falta de apoio parlamentar. Nada autoriza o governo a imaginar que os partidos responsáveis pelo massacre que o governo sofreu na Câmara adotem posição distinta no Senado, ainda mais estando acomodados em cargos no novo governo.
Dilma negou que esteja pensando em propor a antecipação da eleição, como sugerem líderes petistas. Mas não fechou a porta para esta que seria, mais do que uma proposta factível, uma tentativa derradeira de conquistar apoio popular com uma ideia sedutora como a de "diretas já". Sedutora e inviável, porque para prosperar seria preciso aprovar uma emenda constitucional em dois turnos, com três quintos dos votos da Câmara e do Senado.