Protocolada nesta terça-feira por um grupo de senadores, a emenda que prevê nova eleição para presidente e vice-presidente da República nasce condenada a ser apenas mais uma marola no oceano da crise política. A reação dos próprios colegas dos autores mostra que nem no Senado a proposta salvadora encontra a ressonância necessária para ser aprovada a tempo de a eleição ocorrer em outubro.
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Preparado para assumir o poder com a perspectiva de aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o PMDB não quer nem ouvir falar de eleição. Entre outros motivos, porque não tem um candidato em condições de disputar com chances em outubro. O PSDB não se empolga. Os adversários do PT desconfiam que essa proposta, embora avalizada por senadores independentes, como João Capiberibe (PSB-AP), Cristovam Buarque (PPS-DF), Lídice da Mata (PSB-BA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Valter Pinheiro (sem partido-BA), é um factoide do PT para tentar recuperar o poder que está prestes a perder. Aliados de Michel Temer bombardearam a proposta, convencidos de que se trata de uma estratégia do PT para desgastar o vice e favorecer a candidatura do ex-presidente Lula em 2018.
– Eles sabem que não há hipótese de a proposta ser aprovada a tempo de fazer uma eleição em outubro. Estão criando um fato político para tumultuar – opina o ex-ministro Eliseu Padilha, braço direito de Temer.
Um dos signatários da proposta, Paulo Paim (PT) diz que a aprovação dependeria de “um grande acordo” e que a presidente Dilma Rousseff deveria “ter a grandeza de aceitar”. Ameaçada de ficar no limbo por seis meses, com a provável aprovação da abertura do processo no Senado, Dilma pode até concordar, porque já não tem nada a perder. Pergunte-se a Temer se ele teria essa “grandeza”.
Para ser aprovada, a emenda precisa, em primeiro lugar, passar pela Comissão de Constituição e Justiça, já que há sérias dúvidas sobre sua constitucionalidade. Depois, ser aprovada em dois turnos, na Câmara e no Senado, com três quintos dos votos. Não há hipótese de ser aprovada a tempo de a Justiça Eleitoral organizar a eleição, muito menos de se fazer uma campanha eleitoral em tão curto prazo.