Os ventos da delação premiada do senador Delcídio Amaral tiveram efeito devastador. Deixaram a presidente Dilma Rousseff ainda mais fragilizada, comprometeram o ex-presidente Lula, respingaram no vice-presidente Michel Temer e atingiram figurões da oposição, como o senador Aécio Neves. Homologada pelo ministro Teori Zavascki, a delação que o PT definia como invenção da mídia, quando a revista IstoÉ divulgou os primeiros trechos, é uma bomba e deverá ter impacto no processo de impeachment, na ação que tramita no Tribunal Superior Eleitoral e nas próximas eleições.
A oposição quer incorporar a delação ao processo que tramita na Câmara, como forma de dar consistência ao pedido de impeachment.
Lula, que está a um passo de assumir a Secretaria-Geral de Governo e, assim, ganhar foro privilegiado, é o campeão de citações na delação de Delcídio. Aos números: Lula é citado 186 vezes, Dilma, 72, Aloizio Mercadante, 35, Renan Calheiros, 29, Eduardo Cunha, 20, e Aécio Neves, 14. Temer aparece 11 vezes no acordo de delação.
Não bastasse a delação, Delcídio ainda deu entrevista ao jornalista Lauro Jardim, de O Globo, dizendo que Lula e Dilma o escalaram para barrar a Operação Lava-Jato. Como no dia de Dilma nada é tão ruim que não possa piorar, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, teve gravada por Eduardo Marzagão, assessor de Delcídio, conversa na qual fala em ajudar o senador, que à época estava na cadeia. Delcídio sustenta que Mercadante estava tentando comprar seu silêncio e impedir que fizesse a delação premiada.
Dilma divulgou nota definindo a iniciativa de Mercadante como "pessoal", sem o conhecimento dela, e frustrou os que esperavam que demitisse o ministro. Mercadante isentou a presidente de responsabilidade pela conversa e disse que ficará no governo enquanto tiver a confiança dela. Defendeu-se dizendo que foi apenas um gesto de solidariedade com o senador e sua família e que estava buscando uma “saída jurídica”. Em entrevista à GloboNews, Marzagão contestou essa versão, lembrando que Mercadante é desafeto de Delcídio desde os tempos do mensalão e que "inimigos não prestam solidariedade".