Realizadas no mesmo horário, as posses da deputada Silvana Covatti (PP) na presidência da Assembleia e do desembargador Luiz Felipe Difini na presidência do Tribunal de Justiça mostraram uma diferença abissal de visão sobre as relações com o Executivo. Aliada do governador José Ivo Sartori, Silvana mencionou a autonomia e a independência dos poderes, mas acenou com uma convivência amistosa. O discurso de Difini foi tão duro com o Executivo, que o vice-governador José Paulo Cairoli, escalado para representar o Piratini e sentado na cadeira ao lado do novo presidente, não conseguia esconder o desconforto.
Na presença de Sartori, Silvana disse que "serão travados todos os debates que caracterizam o regime democrático", mas ressalvou que os interesses do Estado devem estar acima das diferenças:
– Virão dias de ânimos acirrados, mas tenho certeza, governador Sartori, de que algo maior nos norteia. Oposição e situação se tornam condições menores quando se trata daquilo que realmente importa ao Rio Grande.
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Difini reconheceu que o aumento do ICMS era necessário, mas disse esperar que o "remédio amargo" seja para curar o doente e não para impor novo ônus à sociedade. Nas entrelinhas, insinuou que o governo Sartori não tem projeto:
– É evidente que a crise fiscal é real e vem de longos anos, mas crise fiscal não pode ser programa de governo.
O desembargador criticou o uso dos depósitos judiciais e anunciou que vai propor ao Executivo um calendário de devolução dos recursos de terceiros, que vêm sendo utilizados desde 2004, e que chegam a mais de R$ 10 bilhões.
Devolver o dinheiro dos depósitos judiciais é uma hipótese que não está no cardápio do atual governo. Ao contrário, Sartori propôs (e a Assembleia aprovou) a ampliação do limite de 85% para 95% do saldo e saca tudo o que a lei permite. Na lógica do Piratini, os 5% são suficientes para garantir o pagamento às partes, no momento de liquidar a sentença. O Judiciário teme que não sejam.
O desembargador também reclamou do Legislativo, que atrasa a apreciação de projetos de interesse do Judiciário. São 71 propostas à espera de votação na Assembleia, entre as quais o projeto de reajuste dos servidores do Judiciário, que a base do governo não votou por orientação do Piratini.