A pergunta mais ouvida pelos investigadores que trabalham na força-tarefa da Operação Lava-Jato é curta: "Vão pegar o Lula?". Os policiais federais e os procuradores do Ministério Público Federal costumam responder que a Lava-Jato é uma operação aberta. Que ninguém está imune, mas que Lula não é, oficialmente, investigado.
A cautela da força-tarefa da Lava-Jato foi patrolada pelo promotor Cássio Conserino, do Ministério Público de São Paulo, que resolveu intimar o ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, para depor na condição de investigados. O depoimento de Lula foi marcado para 17 de fevereiro, mas, antes de ouvi-lo, o promotor já disse que irá oferecer denúncia contra Lula na Justiça por ocultação de patrimônio.
A tese do promotor, construída a partir de relatos de testemunhas que dizem ter visto a família do ex-presidente no apartamento 164-A do edifício Solaris, no Guarujá, é de que Lula é o verdadeiro dono do imóvel. Para tentar confirmar sua tese, o promotor convocou também o presidente da OAS, Léo Pinheiro, e o engenheiro Igor Pontes, que teria trabalhado na reforma do triplex.
Por ora, o que se tem é palavra contra palavra. Não há, até onde se sabe, qualquer documento indicando que Lula é ou foi dono do imóvel. Léo Pinheiro é que poderá dizer se a OAS fez a reforma a pedido de Lula, como imagina o promotor. Se disser que sim, a situação de Lula se complica – e muito. Se disser que não, a Justiça terá dificuldade para provar alguma irregularidade. Só a visita da família Lula não configura crime. A defesa poderá dizer que estavam visitando o imóvel para decidir se o comprariam ou não. Quem poderá provar o contrário?
O apartamento não é o único problema de Lula envolvendo imóveis. No centro da controvérsia está um sítio em Atibaia, que Lula e a família frequentam desde 2011, quando ele deixou a Presidência. Em nota, o Instituto Lula informa que o sítio é de "amigos da família". Testemunhas dizem que o imóvel foi reformado pela Odebrecht.
Há muitos pontos de interrogação nas transações imobiliárias investigadas. Até que as perguntas sejam respondidas, é prematuro dizer se Lula é culpado ou inocente. Para isso, existem a Justiça e o devido processo legal.