A grenalização definitivamente chegou também ao universo dos super-heróis. Antes da estreia em 28 de abril de Capitão América: Guerra Civil – próximo filme da Marvel, que vai dividir boa parte dos personagens da editora em lados opostos, liderados pelo soldado patriota e pelo Homem de Ferro –, a DC Comics chama sua arquirrival para a briga com Batman vs. Superman: A Origem da Justiça. A aventura que entra em cartaz no Brasil nesta quinta-feira coloca em conflito duas das figuras mais icônicas da cultura pop, em uma produção tão súper quanto seus protagonistas e que funciona como abre-alas da chegada enfim da Liga da Justiça às telas.
Dirigido por Zack Snyder – especialista em adaptações de quadrinhos para o cinema, realizador de títulos como 300 (2006) e Watchmen: O Filme (2009) –, Batman vs. Superman teve um custo estimado de US$ 250 milhões. A ação se passa depois dos acontecimentos de O Homem de Aço (2013), também dirigido por Snyder.
E atenção para o alerta de spoiler: a partir de agora, este texto vai incluir informações sobre acontecimentos e detalhes não divulgados previamente. Portanto, se você quiser saber se surpreender com essas revelações somente na sala de projeção, NÃO continue com a leitura, ok?
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O filme começa relembrando mais uma vez o traumático episódio do assassinato dos pais na frente do pobre menino rico Bruce Wayne na saída de um cinema. A história recupera em seguida o confronto final de O Homem de Aço, quando Superman (Henry Cavill) derrotou o vilão Zod (Michael Shannon) em um confronto que quase destruiu Metrópolis. Batman vs. Superman mostra que o já adulto Wayne (Ben Affleck) assistiu a essa batalha, responsável por colocar abaixo o prédio de sua corporação na cidade e provocar baixas entre seus funcionários. A partir de então, Bruce Wayne/Batman começa a encarar o kryptoniano como uma ameaça ao planeta. Ao mesmo tempo, Clark Kent/Superman desaprova os métodos justiceiros de Batman em Gotham City, dividindo com sua colega de reportagem no jornal Planeta Diário e também namorada Lois Lane (Amy Adams) e com seu editor Perry White (Laurence Fishburne) suas desconfianças a respeito do Homem Morcego.
Alimentando dissimuladamente essa animosidade entre os mocinhos, o jovem e excêntrico magnata Lex Luthor (Jesse Eisenberg) tenta também influenciar a senadora Finch (Holly Hunter) a banir o Homem de Aço, por conta da ameaça em potencial de seus superpoderes e da independência do herói alienígena com relação às autoridades. Quando Luthor coloca as mãos em um precioso carregamento de kryptonita, Batman vê ali uma chance de tentar encarar Superman em pé de igualdade. O desfecho da trama reserva ainda a aparição do megadestruidor Apocalypse – monstro responsável por uma tragédia que os fãs das HQs do Superman não esquecem.
Batman vs. Superman prepara o terreno para a série de títulos já programados com figuras da editora americana DC, apresentando rapidamente o grupo dos chamados "meta-humanos", formado por The Flash (Ezra Miller), Aquaman (Jason Momoa) e Ciborgue – o longa Liga da Justiça, por exemplo, está previsto para 2017. Juntando-se à dupla central no ato final, está um dos destaques do filme: a Mulher Maravilha (interpretada pela bela atriz israelense Gal Gadot), heroína que mantém o mistério de sua origem no filme e que será a estrela de uma produção com seu nome, também agendada para o ano que vem. Batman vs. Superman retoma os conflitos de identidade que vêm caracterizando a dupla especialmente no cinema: atormentado pelo passado, o Homem Morcego tem dificuldade de distinguir justiça de vingança e parece mais próximo da escuridão do que da luz; já o Homem de Aço divide-se entre a vocação messiânica de salvar a humanidade e o desejo de viver como um mortal ao lado da amada.
Contrariando as previsões pessimistas, Ben Affleck está convincente no uniforme negro de Batman – chegando mesmo a impressionar em cenas mais amarguradas e violentas, que remetem à clássica graphic novel O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, referência assumida do filme. Batman vs. Superman, no entanto, não tem o mesmo clima sombrio da trilogia sobre o herói dirigida por Christopher Nolan. Já o ponto mais fraco da realização é a irritante e caricatural atuação de Jesse Eisenberg como um Lex Luthor infantilizado, que enche a paciência dos outros personagens e do público com suas piadas sem graça – exatamente o oposto do carismático e memorável antagonista encarnado por Gene Hackman em Superman: O Filme (1978).
A falta de humor, entretanto, é só um problema menor no roteiro de Batman vs. Superman: o que o enredo ressente-se mesmo é de uma justificativa consistente para colocar os heróis em pé de guerra. Ainda que a ideia de ver esses dois paladinos da ordem quebrando o pau um com o outro como inimigos seja sedutora, é difícil acreditar que ambos seriam tão tolos a ponto de se deixar envolver pelos planos do ridículo Luthor. Falta a liga que cimente em Batman vs. Superman as cenas de explosões e pancadarias de praxe no gênero com os momentos mais dramáticos, a fim de conferir unidade e densidade ao resultado.
Ah, e fica a dica: depois das mais de duas horas e meia de projeção, você não precisa ficar no cinema até terminarem os créditos – diferentemente dos filmes da Marvel, não há cena extra no final de Batman vs. Superman, ok?