
O cabo de guerra de tarifas é acompanhado do de um confronto retórico entre autoridades americanas e chinesas. É parte do show. Cão que muito ladra não morde, mas, no caso da economia, o simples rugir de dois titãs, como Estados Unidos e China, desestabiliza mercados — e, ainda que resulte em recuos —, deixa estragos vultosos pelo caminho.
Na batalha por quem grita mais alto, os dois lados encarregam-se de buscar referências históricas ou frases de efeito para fazer o outro lado titubear. Nesta quarta-feira (9), a Embaixada da China nos EUA compartilhou uma postagem em suas redes sociais em que faz uma comparação entre o tarifaço anunciado semana passada por Donald Trump e o subsequente aumento de tarifas à China nos últimos dias com a Lei Tarifária de 1930, também conhecida como Lei Smoot-Hawley, aplicada pelos americanos naquele ano para proteger a economia do país.
"A Lei de Tarifas Smoot-Hawley de 1930 alimentou a Grande Depressão. Hoje, as Tarifas Recíprocas correm o risco de abrir novamente a Caixa de Pandora", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, que fez a postagem.
Lá no meio está a expressão para causar estupor: "Caixa de Pandora", o artefato mitológico grego que simboliza a origem dos males da humanidade. A história conta que Pandora recebeu a caixa como presente de casamento de Zeus, mas foi advertida para não abri-la. A curiosidade venceu e ela acabou liberando todos os males do mundo.
Na literatura, no jornalismo e na política é usada associá-la ao Apocalipse, como gênio que, uma vez, fora da lâmpada, nunca mais volta para a mesma. Ou máximas militares como "é fácil iniciar uma guerra, o difícil é terminá-la".
Clichês, figuras de linguagem, a diplomacia também é feita delas. O problema é que, por mais que não passem de esforço retórico, alguns líderes se alimentam delas - e respondem com o fígado. Trump é assim.
A retórica belicosa do dia ficou por conta do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, que disse que os EUA não buscam uma guerra com a China, mas que um conflito também pode ser "inevitável".
Alguém, por favor, chame os adultos de volta à sala.