O Mercosul foi criado tendo como inspiração a União Europeia (UE), mas nunca prosperou tal qual o modelo do bloco supranacional do Norte, que alcançou talvez o limite máximo do ideal de integração entre países - a ponto de ter livre circulação de pessoas, bens e capitais, com o euro seu maior exemplo.
Em um mundo que migrava da bipolaridade da Guerra Fria para a unipolaridade americana, blocos regionais tornaram-se um fenômeno dos anos 1990, quase como um sonho liberal: a integração comercial era requisito para o desenvolvimento econômico. Afinal, a cartilha kantiana ensina que países com laços comerciais não fazem a guerra.
Na UE, houve traumas, ranger de dentes, crises na zona do euro e retrocessos na integração, como o Brexit. No Mercosul, rusgas ideológicas, má vontade política levaram o bloco originalmente formado por quatro países ao quase fracasso. Não foram poucas as vezes em que ouvi a frase: "O Mercosul está morto".
De fato, a geopolítica soprou, ao longo desses 25 anos de negociações para um acordo comercial entre os dois blocos, soprou para o outro lado. Como poucas vezes ao longo da história, vivemos a volta ao tribalismo, os nacionalismos exacerbados, o crescimento de movimentos antiglobalização, isolacionismos e protecionismo. Também como poucas vezes, houve tantos processos de instabilidade ao mesmo tempo: da Ucrânia à Coreia do Sul, passando pelo Oriente Médio. Em um mundo mais isolacionista e com novas guerras, voltar a falar, de forma concreta, em integração e cooperação não deixa de ser um respiro. Um alívio em meio à tempestade.