Ganhe quem ganhar nesta terça-feira (5), a história estará sendo escrita diante de nossos olhos. Se Kamala Harris vencer, será a primeira mulher a chegar à presidência dos Estados Unidos.
Se o eleito for Donald Trump, será apenas a segunda vez na longa trajetória política americana em que um presidente consegue um novo mandato após perder a primeira tentativa de reeleição - o único até agora a conseguir essa façanha foi Grover Cleveland, no distante 1892. Sem falar que, se der Trump, os americanos terão, pela primeira vez, um presidente eleito condenado criminalmente pela Justiça.
Entretanto, não é apenas pela biografia dos contendores que essa eleição é histórica. Há pela conjunção de fatos e características que tornam essa eleição única.
Kamala é negra e descendente de imigrantes asiáticos, como tantos que ajudaram a erigir os EUA. Trump é a própria encarnação do acrônimo "Wasp" - as iniciais de "branco, anglo saxão e protestante".
Mais: se você acha que o Brasil está dividido ideologicamente, saiba que, nos Estados Unidos, a situação é mais grave: o país está cindido ao meio a ponto de especialistas em relações internacionais não descartarem, em um futuro, a hipótese de uma nova guerra civil.
Kamala e Trump representam duas visões opostas de América, como os americanos gostam de se referir a sua nação. Se Kamala vencer, os EUA viverão a continuidade do governo Joe Biden, com aposta no multilateralismo. Se Trump ganhar, a tática, a exemplo do primeiro mandato, será em maior isolamento. Kamala quer o país dentro dos acordos globais do clima. Trump deseja a nação fora desses arranjos.
O país chega ao dia da eleição após uma campanha de altos e baixos como poucas vezes se viu: houve a desistência de Biden, então candidato à reeleição, no meio da corrida e um atentado que por milímetros não tirou a vida de Trump.
O 5 de novembro também é um teste para a própria democracia - ironicamente, a mais tradicional do mundo. Será o primeiro pleito presidencial desde a vergonha do 6 de janeiro de 2021 e da infame invasão do Capitólio por apoiadores de Trump, que não reconhecia (e nunca reconheceu) a derrota do ano anterior. Sem dúvidas, quando as urnas forem fechadas nesta terça à noite, fantasmas daquele dia assombrarão a América.