Até algum tempo atrás, quem acompanha a política americana não teria dúvida ao responder à pergunta do título. Os democratas costumam ser mais protecionistas do que os republicanos. Logo, um presidente do partido de Thomas Jefferson, Abraham Lincoln e Theodore Roosevelt seria melhor para os interesses brasileiros. Os republicanos, por outro lado, têm histórico maior de aumento de subsídios, por serem muito mais ligados aos setores que fazem lobby para o agronegócio americano.
Só que Donald Trump subverte essa lógica. O ex-presidente, embora republicano, é imprevisível, e aposta em uma agenda comercial extremamente protecionista, o que, nesse aspecto, seria prejudicial ao Brasil.
Imaginando-se que um eventual governo Kamala Haris representará a continuidade da gestão Joe Biden, podemos apostar na manutenção do alinhamento com o Planalto. Lula e Biden (ou Kamala) têm afinidades em áreas como o ambiente. O isolamento dos EUA em uma nova gestão Trump e o recuo na agenda das mudanças climáticas seria péssimo para o mundo, mas abriria oportunidade para protagonismo brasileiro no tema.
As relações internacionais são permeadas de nuances. Se, por um lado, a vitória trumpista aumentaria a pressão sobre o governo brasileiro a se afastar politicamente da China, parceira no Brics, a rivalidade sino-americana também é positiva para o Brasil porque abre mercados para o agro nacional.
No momento em que Washington intensificou a disputa com Pequim, reduzindo o comércio de soja, milho e algodão entre os dois países, por exemplo, escancarou mercado para os grandes produtores brasileiros.
Como o Brasil não está isolado do mundo – e muito menos da América Latina, zona de influência americana –, um eventual acordo de livre comércio entre os EUA sob Trump e a Argentina de Javier Milei implodiria o que resta do Mercosul.
A vitória do republicano, a quem Jair Bolsonaro emulou no passado, reforçaria, entre aliados do brasileiro, o discurso de retorno do ex-presidente ao poder, apesar de sua inelegibilidade. De tudo, o mais importante: as relações bilaterais entre EUA e China estão consolidadas e independem da chamada diplomacia presidencial.