Voei na pior noite para se voar pelo céu do Oriente Médio: na madrugada desta quarta-feira (2), horas depois da chuva de mísseis balísticos do Irã sobre Israel, o avião da Jordan Aviation no qual eu estava junto com outras dezenas de passageiros foi um dos primeiros a ingressar no espaço aéreo da Jordânia. O país vizinho a Israel ficou na rota dos mísseis, e alguns artefatos chegaram a cair perto do aeroporto de Amã.
O voo R5812 entre o Cairo e a capital da Jordânia deveria ter decolado às 23h de terça-feira (1º). Mas, com o portão de embarque fechado desde cedo, era possível pressentir que algo estava errado. Todos os aparelhos de TV do terminal 1 mostravam o céu de Israel crivado de mísseis, a grande maioria abatida pelo sistema de defesa antiaérea. Israel sofria seu maior ataque.
No caminho dos mísseis, a Jordânia fechou o espaço aéreo.
Como viajar nesta noite? A essa altura, meu voo já estava atrasado. Pelo Flight Radar, era possível ver um imenso vazio no mapa sobre Israel e Jordânia - todas as aeronaves desviavam dos territórios. Preparei-me para não dormir mais uma noite - a terceira desde que deixei Porto Alegre, no domingo (29).
Perto das 2h da manhã, nós, os passageiros, fomos chamados para embarcar. A bordo do Boeing 737-300, olhares sisudos. A aeronave bem antiga gerava apreensão pelo estado das poltronas, sem apoio para o braço, e com mesinhas quebradas. O ar-condicionado só foi ligado pouco antes da decolagem.
No ar, foram 56 minutos de apreensão. Os segundos passavam lentamente. Quando o avião fez a curva à esquerda, sobre a Península do Sinai, entrando no espaço aéreo jordaniano em seguida, o olhar pela janela mirava o horizonte, onde fica Israel. Faltavam 30 minutos ainda para o pouso. Eram os momentos mais delicados. Torci para não avistar nenhum clarão no céu. E se houvesse uma nova ofensiva aérea? Ou um erro de cálculo? Daria tempo de voltar? O que fariam os pilotos?
O alívio veio quando a pista do aeroporto de Amã apareceu na janela. O Boeing já estava bem baixo. Agora, faltavam poucos segundos. Pousamos em segurança às 3h54min em uma noite clara a contrastar com o clima sombrio da guerra. Havia poucas nuvens - mas, ainda assim, foi a pior noite para se voar pelo céu do Oriente Médio.