O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Desde o fim da noite de domingo, os jornais, redes sociais e rodas de conversa falam do mesmo episódio: o caso em que José Luiz Datena (PSDB) arremessa uma cadeira em Pablo Marçal (PRTB) durante um debate entre candidatos à prefeitura de São Paulo.
A coluna conversou com Francieli Campos, presidente do Instituto Gaúcho de Direito Eleitoral. Para ela, o caso pode ser considerado um ato de violência política, quando há agressão física envolvida, porém, no caso de Marçal e Datena, há um histórico nas abordagens dos candidatos que levaram as “vias de fato”.
— Marçal usa um conceito que se chama economia da atenção. Ele tem origem na digitalização das campanhas. Com as redes sociais, o eleitor vai e cobra o candidato e interage com ele. Ao mesmo tempo, é um paradoxo, porque traz uma certa desumanização. Tem coisas que falamos na internet que não falaríamos ao vivo para a pessoa – explicou Francieli à coluna.
Conforme a dirigente, a violência política que está ocorrendo em 2024 é resultado da desumanização das campanhas nas redes e da utilização de ataques como forma de capturar a atenção do eleitor:
— Isso faz com que haja desestabilização na mente de quem consome a comunicação da população. E faz uma incitação ao conflito, que é exatamente o que Marçal faz com a economia da atenção.
Provocação como estratégia
Francieli explica que, logo no início, Datena afirmou que não faria perguntas a Marçal. Ao mesmo tempo, o candidato provocou o apresentador de TV, citando supostos casos de assédio e chamando-o para o conflito.
— Agora, se assistirmos à coletiva que o Marçal dá depois que saiu do hospital, ele faz ataques piores do que fez no debate, porque precisa, é como ele estruturou a campanha. Ele queria, estava buscando aquela cadeirada. Quando o Datena pega a cadeira, ele olha e fala: “Vai”. Não sai correndo, insiste na provocação – analisa ela.
A especialista também faz a leitura de que Marçal percebeu durante a semana que o tucano era o adversário mais psicologicamente desequilibrado, levando em conta entrevista de dias antes, na qual ele chorou, e a discussão que ambos tiveram em outro encontro.
— A Tabata (Amaral, PSB) não cai nas provocações, Marçal já tentou e não conseguiu. O Boulos (PSOL) seria um assunto requentado. E ele pega a vítima mais vulnerável. Há um método naquilo, e ele fala abertamente nas entrevistas, que investe para entrar na mente e desestabilizar os oponentes.
Marçal disse que pediria a cassação de Datena, contudo a advogada não vê crime eleitoral.
— É um crime de justiça comum. Pelo que eu li, Marçal vai fazer corpo de delito e o advogado dele já teria feito registro por lesão corporal e injúria, e, nesse caso, é crime comum. Não vejo base jurídica para a cassação da candidatura.
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