Foi o discurso mais importante de Kamala Harris, a ex-promotora e ex-procuradora-geral da Califórnia convertida na primeira vice-presidente negra e descendente de imigrantes da história dos Estados Unidos.
Foi o momento Kamala — mais importante até do que o debate marcado para o próximo dia 10. Tanto que, apesar dos redatores, ela assumiu, em muitos momentos, a caneta do discurso, revisando o texto da fala em Chicago linha a linha, ensaiando expressões e por vezes tentando se livrar do teleprompter, algo que sempre engessa o autor da fala.
Sua história, contada em parte do discurso, conecta grande parte dos americanos com a trajetória comum de tantos — a criação de classe média, suas necessidades. Uma história de luta, de quem saiu de uma família humilde e chegou lá. Mas só isso, infelizmente, não basta. Por isso, Kamala lançou mão de uma estratégia já adotada pelo presidente Joe Biden na eleição de 2020: o estabelecimento de diferença entre passado e futuro, entre o atual estado das coisas nas democracias ocidentais e seus desafios, em estabelecer as rupturas entre a direita tradicional e Donald Trump, um político com grandes chances de voltar ao Salão Oval, mas que, do amanhecer ao pôr do sol, se preocupa não apenas em subverter os pilares das instituições liberais, mas também converter a Casa Branca em uma extensão da Trump Tower.
Kamala não é Hillary Clinton, contra a qual havia forte rejeição. Há chances de os EUA consagrarem a primeira mulher negra e filha de imigrantes comandante em chefe da nação.
Em tempo: as últimas pesquisas divulgadas na noite de ontem dão margem para várias interpretações. Rasmussen Reports mostram Trump com 49%, contra Kamala, com 46%. Data Progresso com preferência para a democrata (49%) contra Trump (46%). E HarrisX com preferência para o republicano (51%) contra 49% de Kamala.