Depois de atacar o Supremo e dizer que não há liberdade de expressão no Brasil, Elon Musk mira, agora, a Austrália. O dono do "X" (ex-Twitter) acusa de censura o país que tem uma das democracias mais consolidadas do globo e - não por acaso - é um dos pioneiros em regulamentação de redes sociais. O estopim para Musk disparar seus petardos contra a nação australiana foi a decisão da Justiça local de ordenar que a plataforma removesse vídeos que mostram a execução de um bispo dentro de uma igreja em Sydney, na semana passada.
Logo após o atentado, imagens começaram a circular nas mídias digitais. A comissão de segurança digital australiana determinou que as plataformas removessem os vídeos, e a comissária responsável pelo órgão, Julie Grant, ameaçou impor multas a quem desrespeitasse a ordem. Facebook e Instagram, que pertencem a Meta, entenderam o direcionamento e retiraram os conteúdos do ar. A rede de Musk, no entanto, apenas ocultou as cenas para usuários no país, permitindo, assim, que os vídeos pudessem ser acessados fora da Austrália.
No sábado (20), o bilionário postou em seu perfil: "A comissária de censura australiana está exigindo proibições globais de conteúdo!". O "X" classificou as medidas como "um terrível ataque à sociedade livre".
Na segunda-feira (22), a Justiça australiana deu dois dias para que os vídeos fossem retirados do ar de todo o "X" - em todos os países. O primeiro-ministro Anthony Albanese entrou na briga.
— Isso não é sobre liberdade de expressão — disse.
Na terça (23), Albanese chamou Musk de "bilionário arrogante que pensa estar acima da lei e da decência básica".
— Um sujeito que escolheu o ego e a violência em vez do bom senso — acrescentou.
O caso se aproxima muito das rusgas entre Musk e o ministro Alexandre de Moraes. Em recente entrevista à coluna, o secretário de Políticas Digitais do governo federal, João Brant, enfatizou a necessidade de se fazer valer a soberania nacional nos temas relacionados a ambientes digitais. No entendimento de Brant, pessoas que desconhecem a realidade brasileira estariam aplicando a regra americana, por exemplo, onde há maior flexibilidade em relação às redes sociais.
Ao menos nos discursos, os governos de Austrália e Brasil se assemelham. Mas, em termos de legislação, o primeiro está anos luz à frente no tema - é uma das nações mais rígidas em termos de controle de idade para uso das redes sociais e esforços em ações contra difamação e desinformação na internet.