Uma entrevista concedida pelo papa Francisco à emissora suíça RSI provocou a ira da Ucrânia.
A íntegra da conversa entre o Pontífice e o jornalista Lorenzo Buzella só irá ao ar no dia 20, mas trechos divulgados no domingo (10) levaram o governo Volodimir Zelensky a protestar e a Rússia a aproveitar para usar a frase a seu favor.
O que o Papa disse
O entrevistador perguntou a Francisco:
- Na Ucrânia, há aqueles que pedem coragem para se render, para mostrar a bandeira branca. Mas outros dizem que isso legitimaria os mais fortes. O que pensa sobre isso?
O Pontífice, então, respondeu:
- É uma interpretação. Mas creio que é mais forte quem vê a situação, quem pensa nas pessoas, quem tem a coragem da bandeira branca, para negociar. E hoje se pode negociar com a ajuda das potências internacionais. A palavra negociar é uma palavra corajosa. Quando você vê que está derrotado, que as coisas não estão indo bem, precisa ter a coragem de negociar.
Em seguida, o Papa lembrou que há muitos países dispostos a mediar o conflito, como a Turquia.
— Dá vergonha, mas com quantas mortes isso vai terminar? Hoje, por exemplo, na guerra da Ucrânia, há muitos que querem atuar como mediadores. A Turquia se ofereceu para isso. E outros. Não tenham vergonha de negociar antes que as coisas piorem - afirmou.
O que a Ucrânia disse
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, afirmou em uma mensagem na rede social X (antigo Twitter).
"Nossa bandeira é amarela e azul. Essa é a bandeira pela qual vivemos, pela qual morreremos e pela qual triunfaremos. Nunca levantaremos outras bandeiras".
O próprio presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, se manifestou nest segunda-feira (11). Leia a íntegra.
“Os assassinos e as câmaras de tortura russas não conseguem avançar para a Europa porque estão sendo retidos por ucranianos que portam armas sob a bandeira azul e amarela.
Costumava haver muitas paredes brancas de casas e igrejas na Ucrânia, mas agora foram queimadas e danificadas por bombas russas. Isto diz muito sobre quem precisa parar para que a guerra termine.
Todos os que defendem a vida e as pessoas estão cumprindo a missão mais honrosa possível diante de uma invasão tão desumana. E devemos proteger totalmente a vida em nossa casa. Sou grato a todos que apoiam nossa defesa e nossos defensores.
Quando o mal russo lançou esta guerra em 24 de fevereiro de 2022, todos os ucranianos se levantaram para defender o seu país. Cristãos, muçulmanos, judeus – todos. E sou grato a cada capelão que está no exército, nas nossas forças de defesa, na linha de frente, protegendo a vida e a humanidade. Aqueles que apoiam os outros através de oração, conversa e ações.
A Igreja é isto: una com o povo. Não a dois mil e quinhentos quilômetros de distância – algures, à procura de uma mediação virtual entre os que querem viver e os que querem destruí-los.
Estou grato a todos que estão na Ucrânia e com a Ucrânia, fazendo todos os esforços para proteger a vida. Agradeço a todos que ajudam, que estão verdadeiramente próximos nas ações e nas orações.”
O que a Rússia disse
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta segunda-feira (11) que o apelo do Papa por negociações de paz é “compreensível” e culpou a Ucrânia por se recusar a conversar.
- Infelizmente, tanto as declarações do Papa como as repetidas declarações de outras partes interessadas, incluindo nós, receberam recentemente recusas absolutamente duras - afirmou.
O Vaticano esclareceu, por meio de comunicado, que a declaração do Papa invoca uma solução diplomática e que "negociar não é se render".