Portugal está entre dispor de um governo frágil, que pode cair a qualquer momento, e um Executivo com a participação da extrema direita pela primeira vez em tempos de democracia.
Essa é uma das interpretações possíveis a partir do resultado das eleições de domingo (10). A Aliança Democrática (AD, direita tradicional) venceu, tendo conquistado 79 cadeiras do parlamento, mas só terá condições de governar com tranquilidade se formar uma aliança ou com o Partido Socialista (PS, esquerda tradicional), que obteve 77 assentos, ou com o Chega, de extrema direita, que ganhou 48 postos.
Como o líder da AD, Luís Montenegro já deu sinais de que não irá se aliar com a esquerda. Ou seja, terá no mínimo um governo frágil: sem maioria parlamentar, precisará negociar, um a um, projetos e orçamento.
A aliança com os populistas de extrema direita também não deve ocorrer, mas ainda não há garantias, apenas promessas. Se AD e Chega se unirem será a primeira vez que esse grupamento político chegará ao poder no país desde o fim da ditadura Salazar, em 1974.
Ventura não exagera quando diz que o domingo (10) foi o dia em que Portugal colocou "fim" ao bipartidarismo. Por certo, seu partido rompe a hegemonia do PSD e do PS. O país entra em uma nova era.
Portugal é uma das últimas nações europeias a experimentar um fenômeno que já é experimentado pelos vizinhos: a ascensão da extrema direita.
Na França, a Frente Nacional chegou ao segundo turno nas duas últimas eleições. Espanha, Dinamarca e Alemanha há anos têm forte presença dos populistas no parlamento. O Chega, em Portugal, liderado por André Ventura e com forte caráter xenófobo, deu um salto incrível em dois anos - havia conquistado, em 2022, 7,2% dos votos. Agora, conseguiu 18,1%, o que fez o partido saltar de 12 para impressionantes 48 cadeiras no parlamento.
As suspeitas de corrupção derrubaram o governo de António Costa. Mas a crise na saúde, os baixos salários e o aumento da imigração foram determinantes no voto no Chega. De 2021 a 2022, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial de Portugal apontou um aumento de 505% nas denúncias de xenofobia contra brasileiros. No ano passado, o número de estrangeiros subiu no país pelo sétimo ano consecutivo, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Ainda que o foco das críticas de Ventura sejam pessoas oriundas de países islâmicos, não se pode descartar que o aumento dos imigrantes brasileiros possa ter contribuído para empurrar Portugal para a direita.