Uma startup gaúcha está auxiliando no combate ao narcotráfico em um dos portos mais visados do mundo pelo crime organizado, o de Guayaquil, no Equador. A Creatus, que pertence ao ecossistema de inovação do Tecnopuc, desenvolveu um projeto de integração de hardwares e softwares para coibir a entrada e saída de produtos ilegais, em geral cocaína, do local.
O porto de Guayaquil é o principal entreposto sul-americano do tráfico de drogas produzidas na Colômbia, no México e no Peru e que têm como destino os Estados Unidos e a Europa.
A realidade em Guayaquil é dramática. A guerra do tráfico e a atuação de cartéis mexicanos têm produzido cenas diárias de esquartejamentos, decapitações e corpos incinerados pelas ruas. Foi lá que ocorreu, em janeiro, a invasão de um estúdio de TV por criminosos durante uma transmissão ao vivo. No ano passado, um candidato à presidência, Fernando Villavicencio, foi assassinado às vésperas da eleição.
O porto fica localizado a cerca de 30 quilômetros de uma penitenciária, onde estava preso José Adolfo Macías Villamar, o Fito, um dos criminosos mais procurados do país. Sua fuga foi o estopim para a nova onda de violência.
Os dois sócios da Creatus, Leonardo Barbosa e João Vitor Severo, ambos de Porto Alegre, desenvolveram a integração de sistemas eletrônicos do porto. Sozinhos, hardwares e softwares não dariam conta da complexidade do problema.
- Não bastaria ter só raio X ou fazer a captura de imagem e a interpretação de texto. Essas aplicações sozinhas não resolveriam o problema. É necessário um conjunto de aplicações. A gente já nasceu nesse mundo de integração, fazendo comunicação entre os hardwares e softwares, produzindo informações e as disponibilizando para o cliente - conta Leonardo, 24 anos, que é engenheiro de computação formado pela PUCRS e esteve em Guayaquil no início do mês para o início dos trabalhos.
No porto, os equipamentos fazem a detecção de qualquer produto ilegal. Dentro do conjunto de hardwares de parceiros da startup há, por exemplo, o sistema OCR, capaz de efetuar a leitura de placas de contêineres e caminhões que chegam e deixam o local. Foi incorporado um detector de radiação de cargas submetidas a análises por meio de uma câmera de inspeção, onde também ocorre uma leitura por raio X. Ao mesmo tempo, é feita a captura de cenas da parte inferior dos veículos, área normalmente utilizada para ocultar entorpecentes. Além da integração dos sistemas, a empresa gaúcha faz o pré-processamento dos dados.
- A gente auxilia na detecção do problema e faz o relatório para a polícia e para o órgão de fiscalização, uma espécie de Receita Federal deles - explica Leonardo.
A startup foi criada em 2020 e tem como investidora a Marcha SA. Junto com a VMI Security, de Minas Gerais, a empresa já desenvolveu projetos de integração de segurança de portos no Paraná, no Piauí, e no Egito, além do terminal equatoriano.