É sintomático que a eleição no Equador, país em cuja campanha dois políticos foram assassinados, tenha começado, na quinta-feira (17), pelas cadeias. É de lá que emana boa parte do poder na diminuta nação sul-americana. Entre os caídos, o mais conhecido é Fernando Villavicencio, candidato à presidência assassinado ao sair de um comício em uma escola de Quito, no dia 9. Cinco dias depois, Pedro Briones, dirigente partidário, também foi morto a tiros. São pelo menos outros 11 atentados só neste ano: além de políticos, promotores, juízes e diretores de penitenciárias.
O país que chega às eleições presidenciais deste domingo (20) está marcado pela violência dos cartéis de drogas, alguns dos quais oriundos da América Central, que esticaram seus tentáculos ao Sul. São um poder paralelo, que desafia o Estado e, em consequência, o presidente que assumir a partir de 25 de novembro.
Aliás, esse é um parêntese importante: quem vencer o pleito no domingo (se houver segundo turno será em 15 de outubro), assumirá apenas em novembro. Se em menos de uma semana o crime organizado sacudiu a campanha, imagine o que pode ocorrer até a posse.
Feito esse parêntese, há um segundo ponto. Quem assumir, irá governar, no máximo, por um ano e seis meses. A esdrúxula lei eleitoral equatoriana, num arremedo de parlamentarismo, permite que o presidente dissolva o parlamento em caso de desconfiança e convoque eleições gerais. Foi o que ocorreu diante do processo de impeachment a que Guillermo Lasso, ex-banqueiro eleito presidente, fora submetido. Com a manobra, ele se livrou do afastamento e convocou novo pleito. Mas o eleito só poderá governar até o que seria o final do seu mandato. E lá se vai a estabilidade.
Os últimos dias de campanha foram surreais, com candidatos à presidência utilizando coletes à prova de bala e temores de novos atentados - um dos presidenciáveis, Jan Topic, foi explicitamente ameaçado de morto no vídeo da quadrilha Los Lobos, no vídeo em que o grupo reivindicou o assassinato de Villavicencio . As pesquisas são imprecisas - a ponto de o candidato assassinado figurar entre o quinto e o segundo lugar antes de ser morto.
Há poucas dúvidas sobre o favoritismo de Luisa Gonzáles, afilhada política do ex-presidente Rafael Correa, que, por sua vez, é discípulo do falecido bolivariano Hugo Chávez. O segundo lugar é totalmente impreciso. Se Luisa vencer, em primeiro ou segundo turno, será uma guinada à esquerda no país sul-americano, unindo-se a outras nações desse posicionamento ideológico, como Brasil, Chile, Colômbia e, claro, Venezuela e Bolívia. Mas, sobretudo, nesse pouco mais de um ano e meio de mandato, servirá para Correa voltar ao Equador e ser anistiado. Hoje, ele vive na Bélgica, em autoexílio, porque, se retornar sem alguém de sua confiança no poder, será preso por corrupção. Pobre Equador.