O nome do major reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros aparece com destaque na trama golpista investigada pela Polícia Federal (PF), segundo relatório que embasou a Operação Tempus Veritatis. Preso junto com o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, em maio do ano passado, o gaúcho de Alegrete seria, segundo os policiais, uma espécie de interlocutor do então chefe da Casa Civil Walter Braga Netto junto ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.
Os diálogos eram frequentes entre os dois, segundo o relatório da PF. Em um deles, Braga Netto encaminhou a Barros uma mensagem que teria recebido de um militar de forças especiais do Exército: "Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do gen. Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente". Em resposta, Barros sugere continuar a pressionar o comandante do Exército e, caso ele insistisse em não aderir à ideia do golpe de Estado, passariam a um plano B: "Vamos oferecer a cabeça dele aos leões". Ao que Braga Netto teria assentido: "Oferece a cabeça dele. Cagão". É também em conversa com Barros que o então chefe da Casa Civil orienta atacar o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, comandante da Aeronática, a quem chama de "traidor da pátria".
Há uma estranha proximidade entre o major reformado, expulso do Exército, e o alto comando das Forças Armadas. Barros, hoje com 62 anos, já havia aparecido em diálogos interceptados pela PF por ocasião de sua prisão, em maio de 2023, por envolvimento no esquema de fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro. A Operação Venire encontrou diálogos entre ele e Mauro Cid sobre "tratativas para execução de golpe de Estado". À época, a pressão sobre o então comandante do Exército já aparecia nas mensagens como método para pôr em prática a ação: "Continuar pressionando o general Freire Gomes para fazer um pronunciamento se posicionando em defesa do povo brasileiro, mas dentro das quatro linhas da Constituição". Também à época apareceu um diálogo em que Barros refere-se à prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Embora bem menos conhecido na imprensa do que Mauro Cid, Barros, sem cargo no governo federal, era uma figura frequente no Palácio do Planalto durante a gestão Bolsonaro. Nascido em Alegrete em 1961, mudara-se para o Rio de Janeiro ainda na infância em razão da profissão do pai, cabo do Exército. Formou-se oficial na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e era paraquedista da Artilharia, como Bolsonaro e Cid. Em 2006, teria se envolvido em uma negociação com traficantes cariocas pela devolução de fuzis roubados de um quartel. Em 2006, foi expulso do Exército em decisão unânime dos ministros do Superior Tribunal Militar (STM). Tinha uma longa ficha de transgressões na Força, entre elas tentativa de abuso sexual de uma civil em acampamento militar, de mentir em depoimentos e humilhar militares de patentes inferiores. Em uma das decisões, os juízes escreveram: "Considerado incapaz de permanecer no serviço ativo do Exército sob argumento de que tem reiterada conduta irregular de atos que afetam o pundonor militar e o decoro da classe".
Ao ser expulso do Exército, o capitão foi promovido por antiguidade a major. Ele estudou Direito e passou a advogar na área criminal. Também tentou vários cargos públicos. Concorreu a deputado federal pelo PFL do Rio, em 2006 e, em 2020, tentou eleger-se vereador da capital fluminense pelo PRTB. Não conseguiu. Em 2022, identificando-se como "01 do Bolsonaro" em campanha para a Assembleia Legislativa do Rio recebeu 7 mil votos, ficando de suplente pelo PL.