Quarto líder a falar na conferência mundial do clima, a COP28, em Dubai, o presidente Lula fez um discurso focado em críticas aos países em guerra, defendeu o retorno ao multilateralismo e pontuou a necessidade de uma "economia menos dependente de combustíveis fósseis".
Em sua fala de cerca de cinco minutos, o brasileiro começou o pronunciamento citando a queniana Wangari Muta Maathai, laureada com o Prêmio Nobel da Paz, que sintetizou o dilema dos seres humanos em sua relação com a natureza: "A geração que destrói o meio ambiente não é a mesma que paga o preço", disse ela.
Lula lembrou que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU alertou que a humanidade tem até o final desta década para evitar que a temperatura média global fique 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. Na sequência, ele relatou os eventos extremos que ocorrem em várias partes do mundo, em especial no Brasil, em decorrência do aquecimento do planeta.
— A humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes. No norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam rastro inédito de destruição — afirmou.
Em seguida, retomou a fala de Maathai para dizer que "a conta chegou antes":
- O planeta já não espera para cobrar a próxima geração.
Na sequência, o presidente criticou os acordos climáticos selados nas Nações Unidas e que não foram implementados. Lembrou, por exemplo, do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997.
— O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos, de metas de emissão de carbono negligenciadas, de auxílios financeiros aos países pobres que não chegam, de discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes e práticas concretas — postulou.
Ele também criticou que "mais dinheiro é investido em guerras do que na proteção do ambiente e na luta por uma economia com menos carbono".
— Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2,2 trilhões em armas, quantias que poderiam ter sido investidas no combate à forme e no enfrentamento à mudança do clima. Quantas toneladas de carbono foram emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas? — questionou.
Lula também estabeleceu uma relação entre quem sofre com os efeitos do aquecimento global e as desigualdades sociais. Disse que "a conta da mudança não é a mesma para todos":
— Chegou primeiro para as populações mais pobres. O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial. Trabalhadores do campo têm suas lavouras e sua existência devastadas pela seca e já não podem alimentar suas famílias.
No final do discurso, voltou a defender o multilateralismo, afirmando que é preciso resgatá-lo. E criticou o fato de as Nações Unidas "serem incapazes de manter a paz":
— É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz simplesmente porque alguns de seus membros lucram com a guerra.
Sobre as iniciativas por uma economia verde, citou o plano de transformação ecológica para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia. E defendeu uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.
— Forjamos uma visão comum com os países amazônicos. O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis, é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar com uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. Temos de fazê-lo de forma urgente e justa - declarou.
Antes do brasileiro, falaram o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed, o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o rei Chales III, do Reino Unido.
Os pronunciamentos dos chefes de Estado e de Governo começaram após o registro da foto oficial da COP28, feita na Al Wasl Plaza, a gigantesca esfera multimídia no centro da Expo City, local da conferência, em Dubai.