Entidades judaicas no Brasil estão mobilizadas nesta quarta-feira (9) com eventos simultâneos em várias capitais do país em alusão ao Dia Internacional de Combate ao Fascismo e ao Antissemitismo.
A data foi estabelecida pelo Parlamento Europeu em referência ao trágico 9 de novembro de 1938, quando ocorreu a chamada "Noite dos Cristais". Naquela ocasião, milhares de lojas e empresas de propriedade de judeus foram incendiadas na Alemanha e Áustria. Essa noite é considerada o início do Holocausto, o extermínio de 6 milhões de judeus antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) considera a data uma oportunidade para refletir sobre o combate aos discursos de ódio e ao antissemitismo. Os eventos ocorrem em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife e Porto Alegre. Na capital gaúcha, os debates, que contaram com a presença de acadêmicos, formadores de opinião, empresários e autoridades, ocorreram na sede da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs).
Líderes judeus consideram que os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas, em 7 de outubro deste ano, ativaram uma onda de preconceito e ódio contra as comunidades. A preocupação com atentados contra prédios e entidades israelitas aumentou depois da prisão pela Polícia Federal (PF) de dois suspeitos de ligações com o Hezbollah, em São Paulo, na terça-feira (8).
— Quando falamos de antissemitismo, não estamos falando apenas do combate a uma religião ou cultura. Falamos de uma luta contra a intolerância. Antissemitismo é racismo, portanto crime — disse, em vídeo transmitido durante o debate, o presidente da Conib, Claudio Lottenberg.
O presidente da Firs, Marcio Chachamovich, estabeleceu uma reflexão entre os eventos traumáticos de 1938 e os ataques de 2023.
— A prova de que não aprendemos nada com o que ocorreu há 85 anos é a atual onda de antissemitismo — afirmou. — Preconceito contra os judeus de uma forma ou de outra significa preconceito contra todos.
Um dos debatedores, o professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Jacques Wainberg, apresentou uma reflexão sobre a necessidade de uma educação para a paz. Pontuou que o tema do Oriente Médio é complexo, histórico, implica combinar informações dos mais diversos campos. E destacou que poucas pessoas têm vontade de gastar energia para tratar de um tema que, aparentemente, não está ligado diretamente ao seu dia a dia.
— O antissemitismo tem raízes profundas e diversas facetas. Judeus são odiados por varias razões. E há um grau da dificuldade de as pessoas tolerarem diferenças. As pessoas se juntam com suas afinidades. A vida é tribal. Estamos falando de neotribalismo — definiu.
Sobre a violência deflagrada pelo grupo terrorista, em 7 de outubro, o pesquisador refletiu sobre os reais interesses do Hamas:
— O objetivo do Hamas não é o Estado Palestino. É a destruição de Israel.
Outra painelista, a delegada Tatiana Bastos, da Divisão de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância da Polícia Civil do RS, demonstrou preocupação em relação à disseminação de discursos de ódio e articulação de grupos criminosos e terroristas por meio de mídias sociais e da deep web.
— Precisamos acessar zonas mais cinzentas e obscuras da internet. Estamos discutindo formas de quebrar e identificar quem está do outro lado — afirmou.
Ela destacou a ação integrada na identificação de grupos neonazistas junto à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e parcerias com consulados estrangeiros.
— Células neonazistas no Paraná, em Santa Catarina e na Serra se inspiram em dois grandes grupos extremistas, que não citarei os nomes para não darmos palco a eles — afirmou. — O discurso de ódio tem pontos de convergência e ambiência política.
Outro integrante da mesa, o coronel João Trindade, ex-comandante da Brigada Militar (BM), reafirmou a necessidade de se estudar e difundir o que é "antissemitismo moderno", que se utiliza de símbolos que, muitas vezes, são desconhecidos da maior parte do público - e, por isso, difundidos sem conhecimento ou reflexão.
— É necessário colocar muito foco para eliminar conceitos equivocados disseminados nas redes sociais, combater a negação e organizarmos uma estrutura de investigação em larga escala — disse.