Ao menos desde o começo dos anos 2000, autoridades brasileiras investigam relações entre o grupo terrorista Hezbollah, do Líbano, e a organização criminosa PCC. Essa parceria teria como principal foco o domínio na fronteira do Brasil, Paraguai e Argentina, em uma batalha pelo controle de uma das rotas de drogas e armas na América Latina.
Nesta quarta-feira (8), supostos integrantes do grupo foram presos e outros foram alvo de busca e apreensão por parte da Polícia Federal por suspeita de planejarem ataques a prédios da comunidade judaica no país.
Sobre a relação com o PCC, porém, o assunto sempre foi tratado com cautela pelo governo brasileiro e pouco se fala sobre as relações entre os grupos criminosos. O tráfico de drogas é uma das portas para financiamento de terrorismo e seria o principal motivo para presença do Hezbollah na América Latina. Em troca, o PCC receberia armamento para atuação criminosa.
Na Justiça Federal, um acusado de integrar o PCC foi preso em fevereiro de 2018, no Rio de Janeiro. Em uma busca realizada por policiais, documentos serviram como provas de um suposto envolvimento de Elton Leonel Rumich da Silva, apontado como um dos líderes da facção paulista, com o grupo terrorista do Líbano.
"Conforme informações da SEAP (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária), quando Elton Leonel foi preso em 27/02/2018 (portando documento falso em nome de 'José Carlos da Silva Júnior'), foram encontrados, pela polícia, aparelhos celulares e uma caderneta no apartamento em que Elton Leonel morava. A análise do material apreendido permitiu apurar que existiam indícios de que Elton Leonel possuía ligação com o Hezbollah. O requerimento da SEAP ainda destacou a participação de Elton Leonel na guerra pelo controle das rotas de drogas na fronteira com o Paraguai, sendo suspeito de ser o mandante da morte de Jorge Toumani Rafaat, conhecido como Rei da Fronteira, em julho de 2016", diz trecho de uma decisão judicial do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, que negou habeas corpus a Rumich da Silva.
Na ação desta quarta-feira, além de dois brasileiros presos e de outros dois integrantes procurados no Líbano, agentes da PF ainda fizeram buscas em onze endereços de três Estados — Minas Gerais (sete), Distrito Federal (três) e São Paulo (um). As ordens foram expedidas pela Justiça Federal de Belo Horizonte.
De acordo com a PF, os recrutadores e os recrutados devem responder pelos crimes de constituir ou integrar organização terrorista e de realizar atos preparatórios de terrorismo. As penas para tais delitos, somadas, podem chegar a 15 anos de reclusão.
Nos últimos anos, a atuação do Hezbollah na América Latina chamou atenção do governo americano. A general americana Laura Richardson havia alertado para "intenções malignas" do Hezbollah no Brasil, ao citar como as atividades do grupo radical na América Latina são uma "preocupação".