A quatro dias do segundo turno da eleição presidencial da Argentina, o candidato e ministro da Economia Sergio Massa lançou mão de uma ferramenta que deve se tornar uma das principais armas de campanha em disputas eleitorais: a inteligência artificial. Como parte da tática de associar seu rival, o ultraliberal Javier Milei, a uma perspectiva de "medo", o político pôs no ar um spot publicitário que reproduz o ataque ao cruzador argentino ARA Belgrano por um submarino nuclear britânico, durante a Guerra das Malvinas.
O episódio, que matou 323 marinheiros em 2 de maio de 1982, é um dos mais traumáticos da história militar argentina.
No vídeo, os estrategistas de Massa exploram o fato de Milei ter elogiado personalidades como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a dama de ferro conhecida pela agenda neoliberal e que comandava o Reino Unido à época do conflito.
Nas imagens, aparecem os marinheiros a bordo do Belgrano em momentos de recreação e em missões na ponte de comando. Tudo aparentemente está tranquilo. Mas eles escutam pelo rádio a voz de Milei dizendo a frase:
- Na história da humanidade, houve grandes líderes, um deles foi a senhora Thatcher, como foi Reagan (Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA), Churchill (Winston Churchill, ex-premier britânico).
Com uso de inteligência artificial, o vídeo exibe Tatcher dentro do submarino britânico, dando a ordem para o lançamento do torpedo contra a embarcação argentina.
- Ataquem Belgrano! - diz, em inglês.
O vídeo encerra com a frase de Massa no debate de domingo (12) em letras brancas e azuis (as cores da bandeira argentina):
- Um país não pode ser liderado por quem admira seus inimigos.
A reivindicação da soberania das Ilhas Malvinas é um tema que costuma unir políticos rivais e de diferentes matizes na Argentina - da esquerda à direita. A ideia é de apelar para um assunto que mexe com os brios dos cidadãos é parte da estratégia final de Massa, que conta em sua equipe com marqueteiros brasileiros ligados ao PT. Essa é uma das primeiras vezes que a inteligência artificial é utilizada como recurso de campanha política na América Latina. Por certo, não será a última.