Desta quarta-feira até o dia 29, a alta cúpula da Igreja Católica e representantes de todo o mundo se reúnem no Vaticano para debater o futuro da fé de 1,3 bilhão de pessoas.
O sínodo dos bispos convocado pelo papa Francisco é uma espécie de encontro gigantesco que conta com várias fases e que pretende ser uma espécie de conselho consultivo para o Pontífice, que, ao final do processo (ele termina mesmo só no ano que vem), fará uma exortação apostólica, indicando os caminho e diretrizes da Igreja para os fiéis.
Não é o primeiro sínodo do pontificado de Francisco - o último, por exemplo, ocorreu na Amazônia. em 2019. Mas este tem vários aspectos que o tornam especial - tanto que muitos vaticanistas, como são chamados os especialistas em Vaticano - estão vendo o encontro, em Roma, como uma espécie de legado vivo do papa argentino.
Pela primeira vez, o sínodo foi ampliado para participação de mais pessoas de fora da hierarquia da Igreja - além de cardeais, bispos e padres, leigos poderão participar dos debates e das votações. Entre os 464 participantes, 365 têm direito a voto. Das 81 mulheres, 54 são eleitoras. É a primeira vez que mulheres participam, o que também é visto como uma reforma dentro da Igreja.
Francisco convocou o sínodo de forma diferenciada em outubro de 2021. São três fases: a diocesana (uma consulta a partir das Igrejas locais), a continental (com realização de Conselhos Episcopais por continente, que resultou no envio das sínteses que serviram de base para a elaboração do Instrumentum Laboris) e a universal (que ocorre agora, com bispos, religiosos e leigos, reunidos em Roma para refletir realidades da Igreja no mundo. Essa última fase compreende duas sessões, a primeira, até 29 de outubro, e a segunda, em 2024.
Os principais temas que apareceram nas consultas:
- Ordenação de mulheres como diáconos. Esse posto é o primeiro na hierarquia da Igreja. Hoje, são apenas homens. Os diáconos auxiliam os padres e bispos e podem, inclusive, celebrar alguns sacramentos - menos a eucaristia e a confissão.
- Maior participação de mulheres em todos os níveis decisórios da Igreja.
- Ordenação de homens casados.
- Maior proximidade do publico LGBTQIA+.
- Preocupação com abusos sexuais por integrantes do clero.
Pelos temas, como seria de se esperar, esse será um sínodo de alta voltagem, com a reedição da eterna luta de poder entre reformistas e conservadores. Os primeiros veem nos assuntos e na própria abertura da Igreja às mulheres como os ventos renovadores soprados a partir do pontificado de Francisco. Os segundos analisam na pauta a possibilidade de ruptura ou mesmo autodestruição da doutrina por dentro, uma espécie de operação Cavalo de Troia empreendida pelo Papa.
Ficaram de fora da pauta temas como aborto, casamento entre pessoas LGBTQIA+. A Igreja diz que esses temas não apareceram nas consultas, o que é bastante duvidoso.
A Igreja Católica fez algo ousado: se dispôs a ouvir os fiéis. Foi o maior processo de abertura da Igreja desde o Concílio Vaticano Segundo. Os desejos afloraram em grande parte e começam a partir desta quarta-feira (4) a adentrar nos muros do Vaticano. O que a Santa Sé fará com eles só saberemos daqui algum tempo.