Guerra urbana é pesadelo de qualquer exército. Que o digam os americanos em Cidade Sadr, Bagdá, em 2003, e os russos em Kiev, em 2022. Cada esquina se transforma em uma armadilha para a tropa invasora. Cada prédio torna-se uma ratoeira. Cada sacada é um ponto do qual, a cada instante, podem partir disparos de franco-atiradores inimigos. Em seu próprio terreno, a força defensora, no caso da atual guerra, o Hamas, larga em vantagem por terra. O grupo extremista que comanda a Faixa de Gaza conhece o labirinto do território de 360 quilômetros quadrados, pouco mais da metade da área de Porto Alegre, densamente povoado (2 milhões de habitantes acumulados na estreita faixa palestina).
Devido aos riscos da guerra urbana, as grandes potências militares têm preferido o choque e pavor como primeira tática, bombardeios em larga escala que, além de desnortearem as forças de defesa inimiga, evitam o inferno da luta casa a casa, corpo a corpo. Mesmo as forças especiais, as melhores do mundo, no caso israelense, sabem das dificuldades do ambiente urbano. A guerra assimétrica revela sua face mais crua, com civis e combatentes vestindo as mesmas roupas, compartilhando os mesmos espaços, o que confunde ainda mais o atacante.
No entanto, no caso de Israel só os bombardeios, que começaram ainda no sábado, não são suficientes para desentocar o Hamas e resgatar os reféns. A ação por terra é mais do que opção. É neste momento a única tática possível diante do que está desenhado. Só ação no terreno pode funcionar.
Israel leva muito a sério cada um de seus cidadãos, civis ou militares, em caso de sequestro. Em 2006, o Hezbollah sequestrou na fronteira norte os militares, Ehud Goldwasser e Eldad Regev, levados para o Líbano. O resultado foram 33 dias de guerra e invasão de grande parte do país árabe. Os dois jovens foram levados vivos e voltaram em caixões. Só foram devolvidos em 2008. Em troca dos corpos, Israel prometeu libertar cinco prisioneiros da guerrilha capturados no conflito.
O soldado Gilad Shalit foi sequestrado na Faixa de Gaza durante ataque contra um posto militar israelense no mesmo ano de 2006, em junho. Foi libertado em 2011 em troca de 1 mil prisioneiros do Hamas. Teve mais sorte, voltou com vida. Mas com traumas.
Desde então, essa é a conta: um soldado de Israel equivale 1 mil radicais soltos das prisões israelenses. É assim, na guerra, as pessoas tem um preço.
O Hamas sabe dessa determinação israelense de não deixar ninguém para trás. Por isso, pode ter atacado primeiro para atrair a fúria israelense. E pode estar muito bem preparado quando ela cair sobre Gaza.
Especialistas militares afirmam que Israel, dado seu poderio bélico, poderia varrer a Faixa de Gaza do mapa em três horas. Mas isso teria o custo em vidas impensável.