O ataque terrorista do Hamas a Israel é um claro sinal do quanto os governos vizinhos não podem, ainda que desejassem, ignorar a situação palestina na hora de se posicionarem no xadrez político do Oriente Médio.
Ainda que o grupo extremista não represente os interesses dos palestinos em geral (que têm governo legítimo, eleito, representado pela Autoridade Nacional Palestina), a ofensiva dos radicais lembra que qualquer negociação entre as nações árabes com Israel passa por uma solução para o problema colocado, há mais de 50 anos, sobre a mesa.
O recado vale, sobretudo, para Arábia Saudita - e há, evidentemente, aí a mão do Irã, que apoia com dinheiro, armas e logística o Hamas. Israelenses e sauditas, ambos aliados dos Estados Unidos, ensaiaram uma aproximação nos últimos meses baseados na famosa tática "o inimigo do meu inimigo é meu amigo".
No caso, o adversário em comum de sauditas e israelenses é o Irã. O reino autocrata da família Saud e a teocracia dos aiatolás travam há anos uma Guerra Fria regional, com pano de fundo o conflito histórico entre sunitas contra xiitas. Mas, mais do que isso, essas nações disputam a hegemonia geopolítica na Oriente Médio.
Outras tentativas de aproximação de Israel com os países árabes, com as ditaduras do Golfo, como Emirados Árabes Unidos, também estão na mira. O apoio iraniano ao Hamas é uma tentativa de frear esse processo, um recado para que os países árabes não avancem nesse processo sem considerar a situação palestina.